Kristen Stewart vem de um longo caminho desde que a franquia ‘Twilight’ lançou sua fama na estratosfera. A série só acabou dois anos atrás, mas Stewart já se distanciou dos filmes que fizeram seu nome ao aparecer em alguns projetos menores nesse ano, que provam seu valor como atriz.
Ela começou 2014 sendo encantadora no Sundance com o drama passado em Guantanamo Bay,Camp X-Ray, e logo em seguida em Cannes, onde ela interpretou o oposto de Juliette Binoche no último filme de Olivier Assayas, Clouds of Sils Maria. Esse projeto chamou melhorias de carreiras para Stewart e o auge continuou quando seu último filme, Still Alice, foi para exibição em Toronto, onde foi rapidamente adquirido pela Sony Pictures Classics para distribuição. No drama devastador, Stewart interpreta Lydia, uma atriz batalhadora e filha de uma renomada professora de linguística (Julianne Moore), que luta contra Alzheimer. O filme é mais focado em Moore, mas Stewart deixa uma marca distinta como uma jovem mulher que é forçada a lidar com uma tragédia inevitável. O filme foi dirigido pelos parceiros Richard Glatzer e Wash Westmoreland. O primeiro está vivendo com ALS (ELA).
O Indiewire falou com a atriz sobre seu ano épico.
Still Alice teve um impacto em você pessoalmente? Existe alguém que você conhece que passou por algo similar?
Felizmente eu nunca tive uma experiência pessoal. Eu nunca tive um ente querido que teve que percorrer o caminho assustador que uma pessoa diagnosticada com Alzheimer deve fazer. Eu tive uma experiência quando eu era criança com uma senhora mais velha, mãe de um amigo da família, que estava claramente em um estado severo de demência. Em retrospecto, eu não tenho ideia se era Alzheimer ou não, mas ela tinha claramente ido embora. Ela perdeu algumas partes de si mesma e o que permaneceu era muito desesperador de conectar. Eu tinha doze anos e entrei nesse local e comecei a passar um tempo com essa senhora, e então eu rapidamente percebi que havia um lapso, mas ainda havia essa verdadeira consciência, quase desesperadora, do fato de que ela estava valorizando esses momentos porque eles estavam quase a deixando. E então nós jantamos e todos na mesa a ignoraram e a tratavam como se ela não existisse, mas eu tinha acabado de conhecê-la e vi sua personalidade, sua alma, sua presença e sua essência – estava tudo muito claro para mim. E tudo foi adquirido naquela mesa. Eu me lembrei disso por um longo tempo. Eu contei a história muito antes de ler o roteiro para Still Alice, eu apenas não conseguia esquecer.
Quando eu li o roteiro e encontrei os diretores, eu senti como se eu tivesse que provar para mim mesma que eu merecia interpretar uma pessoa tão especial porque Lydia é dotada com algo que nem todo mundo que está na situação pode lidar, ela pode focar no positivo e na luz e não fazer as coisas tão pretas e brancas. Ela pode levar as coisas pelo o que elas são e apreciá-las sem ter que pôr um rótulo. Ela vive na ambigüidade e pode apreciar isso, e eu me sinto muito similar. Foi um teste perfeitamente claro considerando que Wash e Rich estão lidando com algo inteiramente similar e tão grotescamente assustador e devastador. Para com ALS (ELA), eles apenas passaram por cima e ignoraram o tempo todo. É difícil de reconhecer, é mais fácil não fazer isso. E Rich é a pessoa mais inteligente na sala, então quando eu os conheci e nos encontramos querendo trabalhar um com o outro mutuamente, nós sabíamos que tínhamos que fazer isso.
Eu também sabia que poderia fazer isso com Julie [Julianne] porque eu a conheço há alguns anos. Eu sabia que poderia ser filha dela. Sabia que tudo seria honesto e certo. Nós não estávamos inventando nada, então seria pesado.
Todos sempre perguntam ‘como esse filme mudou você? O que acrescentou para você?’ E o filme te dá uma perspectiva fundamental no senso mais básico. Você quer ir pra casa e ligar para a sua mãe, ou quer parar de ser tão insignificante. Ele te dá essa quantidade enorme de perspectiva.
Meu maior medo na vida é a morte e logo depois é perder minha memória. Eu sei que você não interpreta Alice, mas o processo de fazer o filme foi extremamente difícil? Ou foi um prazer fazê-lo dado com quem você teve que trabalhar?
Tenho que dizer que ambos. Eu estava assistindo Julie trabalhar tão duro. O único jeito de alguém conseguir isso e não estar associada com Alzheimer é devido a uma pura genialidade e apenas ser multifacetado. Você precisa ter imaginação e o controle mais selvagem de seu corpo. Uma coisa que tornou mais fácil, e realmente doloroso do jeito mais correto, foi ver alguém como Julie ser tão forte, tão capaz e tão vital. A noção de que eles poderiam perder aquilo, porque ela estava interpretando alguém que era tão impressionante como mulher, fez com que fosse mais difícil de ver Julie passar por aquilo porque ela é o que ela é. A ideia de que isso podia acontecer com qualquer pessoa – comigo, com você, alguém que você idolatra, alguém que está no controle o tempo todo – não era atuação, era muito real. Qualquer pessoa, mesmo que você não tenha uma experiência pessoal com a doença, você tem uma mãe. Eu tenho uma mãe, então eu sei o que essa experiência se parece. Eu entendo o que seria a sensação de perdê-la.
Eu também acho que a parte mais importante do filme é entender a doença. Quando você é mais nova, e isso é bobo, mas também é muito normal, você escuta crianças dizendo que é “doença de velho” e simplesmente não é. É mais fácil deixar de lado e falar que eles são muito velhos, mas não, isso é uma doença realmente devastadora e pode acontecer com alguém muito jovem. Eu não sabia disso. As pessoas sabem sobre o Alzheimer precoce, mas eu não sabia que era tão comum. É absolutamente devastador e fácil de ignorar, o que é uma combinação terrível. Eu aprendi muito. Eu estou feliz de ser parte de algo que está tendo esse reconhecimento.
Qual é o seu maior medo?
Eu acho que nós temos muito medo de morrer e do desconhecido. Mas acho que a coisa mais assustadora sobre a doença e assistir a esse filme é como você é sozinho antes de morrer. Você perdeu a sua vida antes de morrer. A ideia de que eu poderia esquecer alguma coisa na minha vida e fazer alguém se sentir assim me assusta.
Você trabalhou agora com duas das melhores atrizes do ramo – Julianne Moore e Juliette Binoche (em Clouds of Sils Maria). O que você aprendeu ao trabalhar com as duas?
Estar na presença de pessoas como elas que são tão talentosas, mesmo apesar da idade, isso irá absolutamente te moldar e te motivar. Eu amei trabalhar com Julie porque eu senti que havia uma grave comunhão em termos de como nós alcançamos nossos objetivos na atuação. Juliette, por outro lado, apenas me pavimentou. Ela conseguiu essa grandeza por meios que eu não entendo. Eu a amo por isso. Ela me deixa perplexa e me faz seguir em frente e fazer perguntas. Juliette me deixa louca, enquanto Julie presta muita atenção nos detalhes. O jeito que ela consegue se perder e se encontrar com tanta precisão é como se ela fosse uma cirurgiã com alma.
Eu sou tão ciente da câmera. Eu sempre quero colaborar com o diretor, a DP e os outros atores. Eu quero falar muito sobre tudo. Mas nesse caso eu me senti firme, porque nós pensamos do mesmo jeito e abordamos do meio jeito. Senti-me muito melhor porque eu quero conquistar o que ela conquistou. Eu quero fazer coisas que sejam inegavelmente reais e não ignoráveis. Ela fez isso pelo o que ela é. Eu senti um laço e uma amizade lá. Deu-me confiança. Eu não preciso mergulhar tanto em alguma onde não sei onde estou. Eu quero saber onde estou. A razão pela qual ela é melhor que muitas pessoas é porque ela é a mente que comanda tudo isso. Eu a admiro por isso.
Parece que de muitos jeitos, a sua relação com as atrizes meio que refletem os personagens que você interpreta nos dois projetos. Em Still Alice, você interpreta a filha de Julie, então vocês obviamente irão compartilhar traços similares. Com Juliette, você é sua assistente e você a admira como essa figura misteriosa.
Absolutamente! Como se fosse planejado.
A sua personagem em Still Alice é uma atriz, o que significa que ela compartilha muitas ambições iguais as suas, e seu estilo pessoas – e, por favor, me corrija se eu estiver errado – parece refletir o que você tem adotado ao longo desses dois anos. Você diria que compartilha muito em comum com Lydia, mais do que outro personagem que você tenha feito?
Eu interpretei alguns personagens que foram drasticamente diferentes de mim, primeiramente os personagens em que eu tive que interpreta alguém que existiu na realidade, então pessoas como Joan Jett (The Runaways) e Luanne Henderson (em On the Road). Houve alguns certos elementos nessas pessoas que eu pude me relacionar, algumas partes de mim mesma eram similares e eu as achei por causa delas, mas não era eu. Foi absolutamente uma partida para mim.
Eu não acho que eu possa sair de mim mesma completamente. Não é o tipo de atuação que eu quero fazer. Eu tenho sido sortuda o bastante para me permitir fazer isso. Todo mundo pode me dizer que eu passo a mão no meu cabelo muitas vezes, e está tudo bem porque estou realmente lá e muito presente nesses momentos. Com esses papéis que tenho interpretado, especialmente em filmes recentes como Sils Maria e Still Alice, o jeito que eu faço justiça a esses papéis é realmente ser eles e aprender as coisas que eles estão aprendendo. Você tem que andar nos sapatos deles de verdade e experimentar o que eles estão experimentando. Desse modo, eu não senti como se eu estivesse interpretando personagens. Eles estavam lá para mim, eu só queria viver neles.
As crianças de hoje em dia, nós nos vestimos do mesmo jeito. Se você está tentando ser um ator e você vem para L.A., você provavelmente estará usando jeans skinny e uma t-shirt. Então eu não queria fazer um enigma com ela das coisas que estavam acontecendo para distrair você da honestidade da relação. Então definitivamente lembra a mim porque eu não tentei de outro jeito. Não houve esforço da minha parte de me esconder [em Still Alice]. Tudo o que eu tentei fazer com esse papel foi me encontrar e me mostrar. O melhor jeito de atender essa personagem foi estar lá honestamente, então todas as afetações foram sem sentido. Eu poderia apenas ter tido do meu jeito. Foi algo egoisticamente uma experiência pessoal, mas tinha que ser para que o espectador sentisse do mesmo jeito. Eu não precisei interpretar uma personagem que estava fora de mim.
As performances que atingem mais, mesmo se elas sejam ardilosamente projetadas por alguém e executadas perfeitamente, é realmente a alma e a honestidade que obtém a maioria. Minha proposta era apoiar e servir Julie, então era realmente apenas eu. Eu estava interpretando sua filha de verdade.
Por causa dessa aproximação muito pessoal que você leva para o material, as pessoas que você interpreta devem ser difíceis de soltar depois que as gravações terminam.
Absolutamente. Julie e eu iremos agora nos conhecer de um jeito que nós não teríamos tido a oportunidade, e apreciamos uma a outra de um jeito que não poderíamos se não tivéssemos tido a oportunidade, e apreciamos o assunto de um jeito que não poderíamos se não tivéssemos tido a oportunidade. Eu disse antes que não tinha tido uma experiência pessoal com Alzheimer, mas agora eu tenho. Não quero generalizar, mas mais do que a maioria dos projetos, algo como esse molda em você. Eu tive a linda oportunidade de me levantar para algo difícil e todos nós triunfamos e fizemos algo positivo de algo que é na verdade muito sombrio.
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