[..] Mas nem só de invenção vive o cinema, portanto é de destacar os "socos realistas" que o cinema também nos deu: A Lei do Mercado, que pôs Vincent Lindon às voltas com o desemprego, e A Infância de um Líder, com Robert Pattinson a encarnar um egocêntrico (Hitler?) nos primórdios do fascismo.
O ano não foi fantástico para os cinéfilos, mas não deixou de trazer bons filmes: estes foram os nove melhores do ano, para o GPS:
Um dos melhores filmes do ano nasce da imaginação e controlo de um ator norte-americano de 28 anos, Brady Corbet, que deve ter absorvido cada take de aprendizagem enquanto rodava para Michael Haneke, Lars von Trier, Gregg Araki e Olivier Assayas. A proeza é acrescida, já que este filme de grande mas sombria beleza não se parece com nenhum trabalho dos citados (nem mesmo com o O Laço Branco de Haneke): Prescott, criança carismática, espécie de irmão mais novo do Tadzio de Mann/Visconti - onde Corbet vai buscar a surda ópera de decadência fin de siécle - vive com os pais numa casa apalaçada nos arredores de Paris, enquanto o pai diplomata assume papel decisivo nas negociações do Tratado de Versalhes, estabelecendo os termos de rendição dos alemães.
No maelstrom do pós-guerra, numa Europa em breve turgida pela ascensão do fascismo, assistimos à génese de um monstro totalitário, entre os veludos exaustos da extinta nobreza e um fervor progressista que embaterá na miséria da república de Weimar.
A música de Scott Walker, tão excessiva como extraordinária, sublinha a dimensão trágica dos planos gerais, reminiscentes de um jovem Kubrick.
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