Omelete: The Lost City of Z deveria estar na competição do Festival de Berlim
By Kah Barros - 09:40
Não existe consenso no 67º Festival de Berlim acerca de Z - A Cidade Perdida, filme de imersão do diretor James Gray na selva amazônica, para narrar as expedições sul-americanas do coronel Percy Fawcett: embora tenha lotado todas as suas exibições, como nenhum outro dos quase 400 filmes do evento, o longa-metragem estrelado por Charlie Hunnam é visto como obra-prima por alguns e como um desastre por outros. Produtor do filme, Brad Pitt não compareceu ao encontro da equipe de Gray com a imprensa, numa coletiva na qual o realizador de cults como Amantes (2008) foi posto na parede acerca de seu maior investimento no intimismo do que na exploração da imensidão florestal da Amazônia.
“Esta é a história de um homem deslocado, sobre quem questões de classe social eram um peso capaz de tolher seus desejos de explorar uma realidade muito distante da que vivia na Inglaterra. Quase a metade do filme corresponde às suas incursões pela selva, mas eu não podia abordar sua jornada apenas pelo aspecto aventureiro, pois poderia desperdiçar o que mais me interessava: o fardo cultural que o oprimia. Não queria fazer um filme antropológico, nem só uma ida à floresta”, explicou Gray em resposta ao Omelete. “Houve a oferta de filmarmos na Ásia e até na Austrália, mas eu precisava estar perto das civilizações amazônicas que a história de Fawcett aborda. Filmamos na região da Colômbia, usando quatro diferentes tribos locais. E a melhor maneira de poder dirigir esses índios não era enchê-los de instruções e sim deixá-los livres e fazer a câmera captar seus gestos”.
Ninguém entendeu por que Z - A Cidade Perdida não está concorrendo ao Urso de Ouro. Se estivesse em concurso, o projeto, anunciado inicialmente em 2009, teria tudo para sair daqui com o prêmio de melhor ator, para Hunnam, pela composição visceral de Fawcett como um herói indigenista, incomodado com a burocracia e com os ranços imperialistas da Sociedade Real de Geógrafos do Reino Unido. A fotografia de Darius Khondji também poderia ser laureada com o prêmio de contribuição artística pelas sequências – de tirar o fôlego – em que o filme retrata a passagem de Fawcett pela I Guerra Mundial, em trincheiras esfumaçadas de gás venenoso.
“Era essencial que eu quebrasse o filme para introduzir a Primeira Grande Guerra pois é nela que vemos a cisão entre os dois planetas aos quais Fawcett pertence: a selva e a Europa. Ali, o militarismo civilizatório se faz presente”, diz o diretor, que escalou o astro de A Saga Crepúsculo Robert Pattinson para o papel do braço direito de Fawcett, o explorador Henry Costin.
“Talvez este seja o melhor filme que eu já tenha feito, pelo fato de me levar para uma realidade cultural muito distante da minha. E fiquei anos associado a esta produção até ela, de fato, ser rodada”, diz Pattinson, que aparece no longa com uma espessa barba desgrenhada, sem o look galã pelo qual foi celebrizado como o vampiro Edward.
Calcado num perímetro entre Bolívia, Brasil e Colômbia, com várias referências ao Brasil, incluindo na trama um anão que fala português, este épico intimista de tom claustrofóbico investe na investigação histórica, ressaltando a busca de Fawcett por uma cidade mítica, a tal Z. O novo Homem-Aranha, o inglês Tom Holland, entra em ação no terço final, como Jack, o filho mais velho de Fawcett, que adquire contornos heróicos na atuação de Hunnam. “Este filme talvez tenha sido minha grande aventura de vida, primeiro por poder filmar com Gray, depois pelo mundo da floresta”, diz Hunnam. “O que mais me atraiu foram os dilemas que Fawcett encara internamente”.
A estreia no Brasil é prevista para 20 de abril de 2017.
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