Entrevista da Kristen para a Grazia France sobre o novo perfume da Chanel!
By Kah Barros - 13:16
O que Kristen Stewart representa em 2017, vale a pena lembrar? Ela é o único símbolo da geração atual. Sem competição. Porque ela tem em seus olhos, em sua voz, esse jeito de dizer: “Eis que somos nossa geração, com nossa firme vontade de seguir nossas próprias regras, com a nossa constante redefinição de feminilidade, assim, seguindo uma nova ideia do que os jovens podem fazer em um relacionamento com o mundo desconhecido.”
Com isso, Kristen Stewart não precisa anunciar: é o suficiente que ela entre em um lugar para que seu corpo diga. Chanel, que não havia lançado novas fragrâncias em quinze anos, a escolheu para incorporar Gabrielle. Poderíamos pensar que esse é o anúncio de uma biografia, mas é apenas um (lindo) filme de um minuto. Mas, além da campanha, há essa mistura de gerações: Gabrielle Chanel, futuramente Coco, que foi uma das figurantes mais vanguardistas de seu tempo, e um século depois, essa menina, sua cópia cósmica, que avança tomando todos os riscos. Essa entrevista, realizada em almofadas muito confortáveis de um grande hotel parisiense, durou poucos vinte minutos. No tempo de Kristen, esses vinte minutos são equivalentes a uma hora. As ideias se fundem, a concentração é máxima, a menina não solta, falando com a velocidade de uma metralhadora. Bang, uma ideia, bing, um silêncio.
Há uma certa surpresa em ver você associada com um perfume…
Eu não corro atrás do mundo da moda. Os filmes que eu fiz me trouxeram para cá quando eu era apenas uma adolescente, foi quase uma invasão. Eu conheci o melhor e o pior. O comportamento assustador e ridículo de pessoas que desenvolvem uma imaginação delirante para esmagar você. Eu também conheci pessoas raras que pensam apenas em fazer o mundo um lugar mais bonito, isso é a única obsessão deles. Karl é assim. Eu estou trabalhando com a Chanel por quatro anos agora, então o processo é natural. Trabalhar com ele é como trabalhar com um grande diretor: Eu preciso traduzir as ideias dele para o meu corpo. Eu não sou quem cria, sou quem transmite para os outros.
Esse é o seu papel com Karl Lagerfield? Nós pensamos em uma musa contemporânea…
Não, eu o vejo mais como aquele que pode falar com a impetuosidade e inocência de um adolescente: “Escute, confie em mim. Eu vou explicar, eu vou traduzir sua visão.”
Qual foi a visão para Gabrielle?
Chanel não havia lançado uma fragrância em quinze anos. Eles queriam algo mais “fundamentalmente Chanel”. O que significa ser Chanel? Algo autêntico com uma ideia de insubordinação.
É uma ideia que te toca, imaginamos…
É uma ideia que me deixa lisonjeada! (Risos) Eu lembro de uma frase das conversas iniciais muito bem: “Nós temos contado uma história juntos por algum tempo e essa história não será mudada de repente por conta de um perfume.” Insubordinação é um dos componentes mais fortes dessa história.
Gabrielle Chanel era uma rebelde?
Poucas pessoas sabem que antes de Coco, antes da personagem Coco Chanel, havia essa menina, Gabrielle Chanel. A intenção de chamar o perfume de Gabrielle é ir além da superfície das coisas. No pequeno filme que acompanha o lançamento do perfume, eu não sou Gabrielle Chanel mas eu espero estar conectada com o que ela simboliza. Eu trabalho instintivamente. Eu avanço na vida sem necessariamente saber o que vou fazer, mas eu faço sem ter medo de errar. Se você não se arriscar, você nunca vai aprender nada. Fiquei impressionada lendo coisas sobre Gabrielle Chanel, sobre como sua vida era uma sucessão de altos e baixos. Ela estava experimentando. Algumas de suas propostas eram bem recebidas, outras rejeitadas. Apesar disso, ela não mudava sua marca porque não agradava o público. Ela foi alguém que procurou e explorou, até o último dia. Por necessidade, é uma característica dela que fala comigo. Eu posso ser acusada de muitas coisas, mas não de ficar parada no meu sucesso inicial. Caso contrário, eu estaria aqui na sua frente promovendo Crepúsculo Parte 28.
Curiosidade é o motor?
Pegue o Karl como exemplo. De todas as pessoas que eu conheço, ele é o mais curioso. Nem a idade, notoriedade ou responsabilidades acabaram com seu apetite por descobertas. Ele está atento. Música, livros, ideias, linguagem corporal, ele está atento a tudo. O comercial mostra uma liberação, uma metamorfose, um novo corpo. É um simbolismo forte. Nós somos todos construções. Quando Gabrielle se torna Coco, podemos acreditar que ela trai o que ela é, que isso a afasta de sua autenticidade. É ao contrário: Dá o nome a algo que estava em Gabrielle e deixa essa verdadeira parte de si mesma crescer, mudar. O nome do perfume diz tudo para mim: Nós retornamos para a pessoa por trás da personagem, mas sem contradizer Coco. Nós voltamos para a origem de Coco para melhor medir a transformação, o poder da escolha. Quando Gabrielle desenha os dois C do logo de Coco Chanel, ela deixa algo para ser descoberto. Ela estava muito orgulhosa de suas próprias transformações. É um sentimento contagioso! (Risos). Eu acredito firmemente que você precisa decidir quem você é.
Qual é o lugar de um perfume para a sua geração que possui outras leituras sobre feminilidade?
É uma boa pergunta. É a base de boas conversas com a Chanel. Inicialmente, eu fiquei um pouco intimidada ao ser associada com uma campanha para um perfume. Por que eu? Eu não me sentia confortável com isso. Eu tinha clichês na minha cabeça: Eu me imaginei imediatamente passeando em um roupão de um palácio, beijando o vazio… Sem problemas, mas não se parece muito comigo, certo? (Risos). Eu não enxergava o que eu poderia trazer para essa imagem clássica de perfume. E eu sei que lançar uma nova fragrância após quinze anos é uma grande responsabilidade, estamos no terreno de uma definição muito ampla de feminilidade. Mas precisamente, a questão começou a funcionar: como usar um perfume, como captar uma feminilidade, seria um ato reacionário reservado somente para a ultra sofisticação? Eu tinha acabado de raspar a minha cabeça e eu nunca me senti mais feminina, consegui extrair coisas hipoteticamente longe dos meus gostos, como um lindo perfume. As mulheres de hoje em dia estão procurando um novo jeito de serem femininas. Cada uma tenta, de seu próprio jeito, coisas novas, o que movimenta as linhas. Você pode ser uma menina de cem jeitos diferentes com todas as complexidades possíveis. A primeira a cortar o cabelo foi Gabrielle. Ela foi o que hoje chamamos de “estranha”. Ela foi contra os códigos de normalidade. A minha geração está acordando para isso. Ela não se importava.
A sua filmografia pode ser vista como um longo documentário sobre você? Falo tanto de Crepúsculo quanto de Personal Shopper ou o comercial de Gabrielle.
Particularmente com Olivier, sim. Ele me colocou adiante em Sils Maria e Personal Shopper. Eu gosto de dizer para mim mesma que o público irá aprender coisas sobre mim através dos papéis, em fragmentos. Eu afirmo mais quem eu sou. Eu não me vejo, neste momento, incorporando uma mulher a milhões de quilômetros de distância de mim.
Como a fama veio muito cedo, você sofreu? Como você se construiu sendo observada, examinada, da noite para o dia?
É um negócio estranho e único. A maior diferença é a falta de espontaneidade. Agora eu não posso decidir nada em um bar ou lugares barulhentos. Qualquer coisa pede organização. Isso muda muito, eu não estava preparada para essa fama. Quando eu era mais jovem, eu mantinha meu olhar para o chão. Eu andava olhando para os meus pés, esperando não encontrar o olhar de ninguém. Eu sinto falta de poder ir em uma cafeteria e olhar as pessoas, observar suas vidas, imaginar com o que trabalham… A fama me proibiu de fazer isso. Mas em troca, eu recebi outra coisa. Um sentimento mais forte de pertencer ao mundo. E o trabalho o tempo todo para entender esse reconhecimento. Nunca parando. “Running, running, running for myself” (Ela faz referência a música de Beyoncé que move o comercial). Isso me alimenta nesse estranho estímulo que é o olhar do público.
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