Festival de
Cannes, Olivier Assayas, um César, Chanel… Você está virando francesa?
Quase! Estou
chegando o mais perto que posso. Vou interpretar Jean Seberg em Against All
Enemies de Benedict Andrews. Muitos diálogos são em francês, apesar de que o
sotaque dela é terrível. Então, eu preciso aprender mais do que nunca, o que
vai ser divertido. Estou chegando um pouco mais perto de ser francesa!
Você já
maratonou filmes franceses?
Não o tanto
quanto eu deveria. Eu já assisti muitos filmes, mas eu não me descreveria como
cinéfila. Minha experiência tem sido muito incrível porque eu literalmente
sinto que estou frequentando uma escola de cinema. Todos podem ter uma resposta
emocional a um filme. É uma linguagem universal, eu não me sinto intimidada. O
cinema francês é um lar para um grupo diverso de pessoas que são muitos
diferentes, e ainda assim muito eloquentes e informados. Eles são como meus
professores.
Olivier Assayas
disse que você cria um senso de espaço com o jeito que você atua. Como você se
sente sobre isso?
Esse espaço é
algo que ele me dá. Eu fiz cinco filmes onde me senti o oposto de livre. Eu
acho que um ambiente que te dá espaço para criar algo inesperado leva um grande
planejamento e preparação, e uma mente brilhante que sabe como juntar isso e
fazer funcionar como deveria. Uma vez que você possui todos esses ingredientes
no lugar, você cria um espaço onde você pode perder o controle. Eu não tento
criar uma emoção específica, eu nunca senti como se ele quisesse que eu
atingisse algo em particular. É um jeito diferente de trabalhar e é ótimo,
apesar de que eu prefiro ser mais dirigida, ter alguém me esperando com uma rede
para quando eu cair.
Em Personal
Shopper, você confunde as linhas de gênero, é como se você pudesse ser um homem
ou uma mulher…
Isso é perfeito
porque eu acho que a perda do irmão da minha personagem é tão central, quase
como se ela quisesse ser ele para tê-lo mais perto, para não precisar sentir
saudade e ela está passando por esse período difícil do luto. Eu amo a
ambiguidade na personagem, você nunca sabe quem ela é porque ela mesma não se
conhece.
Você poderia
interpretar um homem?
Totalmente! Gênero
é um mito, se você me perguntar. A relação de cada indivíduo com seu gênero
cabe totalmente a eles definir. Mas eu realmente acho que pela flexibilidade
inerente ao gênero, há bastante espaço para todos os tipos de abordagem.
Qual o seu papel
dos sonhos?
Eu tenho
dificuldade em definir o que eu quero como atriz. Como cineasta, diretora, a
pergunta é mais fácil. Como atriz, eu quero nunca saber. Eu quero estar
presente em algo e sentir com tanta realidade que não vai parecer fingimento,
como se eu estivesse honrando parte da história. É sempre uma surpresa. Assim
que eu começo a colocar a mão para dar forma nas coisas… tipo, eu nunca vou
produzir um filme, eu te prometo. Eu nunca vou montar uma produtora. Eu quero
dirigir e escrever. E atuar para pessoas que dirigem e escrevem.
Seu primeiro
curta, Come Swim, foi revelado aqui em Cannes. O que isso ensinou a você?
Thierry Frémaux
tem sido legal comigo. Para ser sincera, isso meio que fechou um capítulo para
mim. Eu tive esse momento de despertar. O que eu aprendi foi que eu quero fazer
filme porque é bom, porque realmente é o melhor jeito de capturar algo, de
colocar seu jeito em alguma coisa e de juntar um grupo de pessoas que se sentem
do mesmo jeito. Filmes podem educar, eles podem nos unir, preencher lacunas,
nos fazer sentir menos sozinhos. No final daquele filme, eu me senti totalmente
completa.
Sobre o que será
seu primeiro longa-metragem?
Estou adaptando
uma autobiografia. O nome é The Cronology of Water. Lidia Yuknavitch é de
Portland. Eu amo seus romances, mas suas autobiografias… isso é muito pessoal
para ela. Ela está no meu sangue e eu sabia disso antes de conhecê-la. Assim
que eu a conheci, foi como se tivéssemos começado essa corrida sem nenhuma
competição. Eu vou fazer o filme nesse verão, mas além disso, meu único
objetivo é apenas terminar o roteiro e contratar uma atriz espetacular. Eu vou
escrever o melhor papel feminino. Eu vou escrever um papel que eu vou querer
muito, mas não vou interpretar.
*tradução: KSBR
0 comentários