Entrevista do Robert para a revista francesa Les Inrockuptibles

By Kah Barros - 14:13




Les inrocks: De onde vem a sua curiosidade sobre filmes indies internacionais e o que te fez viajar com Werner Herzog ou o colombiano Ciro Guerra e também Claire Denis?

Robert Pattinson: Na verdade, Acho que vem de… Jean-Luc Godard! Ele é o responsável por isso! (risos) Sabe, eu não era um adolescente cinéfilo mas um dia, do nada, descobri ‘Breathless’ (‘A bout de souffle’). E tornou-se a fonte de tudo: da minha vontade de ser ator, à forma como levo a minha vida.

Les inrocks: O que você tanto gostou em ‘Breathless’ (‘A bout de souffle’)?

Robert Pattinson: Primeiro, Belmondo. Acho que quando eu era adolescente não tinha ninguém à minha volta que pudesse considerar 'cool' [legal], alguém a quem eu quisesse ficar parecido. E depois, apareceu Belmondo em ‘Breathless’ e tornou-se, para mim, o símbolo de ser legal. Como tantos outros antes de mim, pensei ‘Quero ser ele!’.

Les inrocks: Por causa da sua insolência?

Robert Pattinson: Sim. Ou talvez mais por causa da sua confiança que o torna mais leve e casual. Mas Belmondo não é a única coisa que adoro no filme. Não percebi na altura, mas a magia por detrás do filme é também por causa da produção. Nunca tinha visto antes um vivo e surpreendente. Vi ‘Pierrot le fou’ (Godard, 1965) logo depois, que me provocou as mesmas emoções. E me tornei neste nerd que não consegue parar de ver filmes.

Les inrocks: Você conhecia o cinema de Claire Denis antes de trabalhar com ela?

Robert Pattinson: Sim. Eu a descobri quando tinha 24 ou 25 anos. Vi ‘White Material’ numa manhã no meu quarto de hotel em Louisiana quando ia filmar lá e me atordoou. O ritmo, a forma como a terra [espaço] filmada, a performance da Isabelle Huppert… Não sabia quem era Claire Denis, não sabia se ‘White Material’ era o seu último filme. Então liguei para o meu agente e lhe disse ‘Quero trabalhar com ela!’ Demorou três anos para entrar em contato com ela! Entretanto vi todos os seus filmes.

Les inrocks: Isso ajudou para ‘High Life’?

Robert Pattinson: Ah sim. O roteito que a Claire nos deu tinha apenas 20 páginas. E a história não era muito clara! (risos) Não é fácil definir sobre o que era. Andamos lentamente para a frente, como se fosse um enigma. Então sim, tinha algumas imagens dos seus filmes anteriores na cabeça, o clima, a forma que ela filmava os corpos. Mantive o meu foco em como podia fazer parte do mundo dela.

Les inrocks: O que é que ela disse sobre o seu personagem e como você se vestiu nele?

Robert Pattinson: Ela me disse que ele era um cavaleiro da Idade Média. Que quando não estava usando a minha roupa de astronauta era como deixar para trás o fato de cavaleiro. Isso me ajudou. Ela também falou muito sobre Ian Curtis, o cantor da Joy Division, a sua maneira de estar e andar. Mesmo assim, algumas coisas foram sobre a história do rapaz foram deixadas no escuro, [por exemplo] o que ele fez para ser sentenciado. A Claire dá mais emoções que informações.

Les inrocks: Você gosta de Joy Division, tem uma cultura rock?

Robert Pattinson: Adoro Joy Division, sim. E eu realmente adoro ‘Control’ de Anton Corbijn sobre Ian Curtis. Foi por isso que estive noutro filme de Anton Corbijn, ‘Life’ (2015) no qual eu fui um fotografo que escreveu sobre James Dean.

Les inrocks: O artista visual Olafur Eliassion ajudou no filme. O que é que ele fez exatamente?

Robert Pattinson: Ele nunca esteve no set. Nunca o conheci. Ele trabalha sempre em diversos projetos ao mesmo tempo. Acho que ele trabalhou com a Claire nas luzes do filme e na representação do buraco negro, antes das filmagens começarem... Gosto bastante do trabalho dele. Lembro-me do enorme sol que ele colocou em frente ao Tate Modern em London quando eu tinha 16 ou 17 anos. Fui lá diversas vezes e como toda a gente, passei horas por baixo daquele sol falso.

Les inrocks: Depois de ‘Cosmópolis’ (Cronenberg 2012) esta é a segunda vez que trabalhas com Juliette Binoche. E mais uma vez, tem uma espécie de sexo rude com ela.

Robert Pattinson: Juliette, ela é a melhor. Ela é tão divertida e selvagem. Quando descobri o filme e vi o que ela fez na sala de f***, fiquei ‘Wow!’ Ela não tem complexos, ela consegue fazer tudo com a mesma intensidade. Para ‘Cosmópolis’ tenho de admitir que estava impaciente para chegar o dia da nossa cena quente na limusine. E estou realmente orgulhoso de ter feito com a Juliette. É algo que podia mostrar aos meus filhos (risos).

Les inrocks: Tem algum?

Robert Pattinson: Oh não! De maneira alguma! (risos)


Les inrocks: Antes de ‘High Life’ tinhas um outro projeto, filme indie, com outro diretor francês, Olivier Assayas. O que aconteceu?

Robert Pattinson: Conheci o Olivier quando tinha 23 anos, durante ‘Twilight’. Ele foi um dos primeiros diretores artísticos que conheci e ficou interessado no meu trabalho. Nos víamos de tempos em tempos. E alguns anos depois ele falou comigo sobre ‘Idol’s eye’, uma história sobre um assaltante da máfia em Chicago no final dos anos 70. O roteiro é magnífico. Criou um universo de filme negro, poucas cenas de ação, mas uma real estilização como ‘Thief’ de Michael Mann. Mas o filme teve muitos problemas de produção. Eu devia ter filmado com Robert De Niro, depois Sylvester Stallone. E finalmente, algumas semanas antes de começarmos, as filmagens foram canceladas. Foi triste. Recebo regularmente e-mail do Olivier ou do seu produtor para me dizer se o projeto podia continuar. Vamos ver...

Les inrocks: Ainda luta com o seu grupo de Hollywood, agente, publicista sobre as suas escolhas, principalmente voltadas para filmes indies?

Robert Pattinson: Oh lá lá! Há algum tempo que a minha agente não me diz o que fazer (risos)! Ela sabe que não gosto muito de comédias românticas. Tornou-se uma espécie de jogo entre nós, saber que tipo de personagem foi saber: ‘John, 30, psicopata’. (risos) Mas sabe, até ‘Twilight’, pelo menos no primeiro, da Catherine Hardwicke, foi um projeto estranho, um pequeno filme que fizemos sem ganhar dinheiro nenhum.


Les inrocks: Você está feliz com o status que tem atualmente no cinema, mundialmente?

Robert Pattinson: Sim, é quem eu sou. Todos os filmes que fiz nos últimos anos, seria impossível não os ter feito. É vital. Desejo que pudesse ficar assim a minha vida toda. O único senão é que apenas poucas pessoas veem esses filmes.

Les inrocks: É triste para você que ‘The Lost City of Z’ de James Gray ou ‘Good Time’ dos irmãos Safdie não tenham tido muita audiência nos Estados Unidos?

Robert Pattinson: Sim claro, me deixa triste. Conheço pessoas de Los Angeles que trabalham na indústria e não viram os filmes. Às vezes acho que ninguém viu ‘Good Time’, exceto os meus amigos… E os críticos franceses, claro (Risos)! No outro dia assisti ‘Killing Joe’ no cabo. Este filme de Roger Avary, com o roteiro de Tarantino, foi um sucesso de bilheteira em 1994, como ‘Pulp Fiction’. Hoje em dia parece de louco! 60% dos filmes em francês com legendas, a história é má, hiperviolenta e histérica. E na altura, ainda havia um grande auditório a descobrir coisas novas. Mas agora, acho que os filmes têm muitas vidas, mais que antes, graças aos sites de transmissão. Por exemplo, não há muito tempo, um homem da Amazon me disse que ‘The Lost City of Z’ não correu bem nos cinemas, mas correu bem no Amazon Video.

Les inrocks: Com ‘The Lost City of Z’ tende a ir para um registro mais cômico. Vimos você em situações mais graves, papéis torturantes, mas na vida real você parece se divertir sempre.

Robert Pattinson: Quando era mais novo queria ser levado a sério. Talvez por ter começado em ‘Harry Potter’ e depois ‘Twilight’, queria que as pessoas me vissem em algo mais profundo e complexo. Mas, com certeza, adoro rir. Adoraria entrar numa comédia. Mas os roteiros de comédia que recebo não são assim tão bons.

Les inrocks: O que te faz rir como público?

Robert Pattinson: Se você soubesse! Sou uma criança! Quanto mais regressivo, infantil, mais me faz rir. É embaraçoso mas devo admitir que nada me diverte mais do que ver animais fazendo caretas no Instagram, e posso escrever na barra de pesquisa ‘animais fazer coisas divertidas’ e rir durante horas vendo cães fazendo caretas, gatos caindo… Na realidade, tenho 8 anos.

Les inrocks: Conhecer os Safdie foi significativo para você.

Robert Pattinson: Eu vi os filmes anteriores deles – ‘The pleasure of being robbed’, ‘Daddy Longlegs’, ‘Heaven Knows What’. Eu queria realmente pertencer ao mundo deles. Foi incrível fazer parte de ‘Good Time’ interpretar um rapaz mau, violento, mas sem noção da gravidade das coisas que faz. Vejo algo semelhante entre os Safdie e a Claire Denis, mesmo que ‘Good Time’ e ‘High Life’ pareçam tão diferentes. Quando você trabalha com eles está menos no filme que no mundo que eles criam. O universo de alguém.

Les inrocks: Já pensou em fazer o seu próprio filme?

Robert Pattinson: Pensei sim, mas não tenho certeza se vou fazer. Sou tão inseguro que se fizesse o meu próprio filme, estaria sempre perguntando aos meus amigos, ‘Isto está bem? Fui bom?’ ou estaria sempre pedindo desculpas (Risos). Contudo, quando era mais novo disse a mim próprio que pararia de ser ator e me tornaria diretor quando crescesse. Mas quando vejo a Claire ou os Safdie, eles são dínamos reais! Eles têm tanta energia, eles têm de responder a centenas de perguntas por dia de pessoas que querem perguntar que cor preferem entre duas, que luz, que decor, que roupa... Acho que diria rapidamente ‘Não sei, não quero saber, façam o que quiserem…’ (risos).

Les inrocks: Um dos seus amigos é Brady Corbet, que se tornou diretor (apresentou, durante o último festival de Veneza, Vox Lux o seu segundo filme com Natalie Portman como uma estrela pop). Ele é um modelo para você?

Robert Pattinson: Conheci o Brady quando ele tinha 16 anos. Eu tinha 18 e estava realmente impressionado por este adolescente que parecia possuir a história do cinema na ponta dos dedos. Ele tinha visto todos os filmes, tinha teorias sobre tudo. Ele já sabia que queria ser diretor. Mais que isso, ele disse que queria ser um ‘auteur’ [ele diz em francês] (risos). A cultura dele intimidou-me. Com ele percebi que o meu trabalho era ver o maior número de filmes possível, mais importante, filmes internacionais. Sabe, em Los Angeles você pode impressionar facilmente as pessoas sendo um cinéfilo.

Les inrocks: Dizendo simplesmente que adoras Jean-Luc Godard, por exemplo?

Robert Pattinson: (Risos) EXATAMENTE! Toda a gente pensa ‘Wow este rapaz é um gênio!’ Quando cheguei a LA, fui todos os fins de semana a uma loja de vídeo para comprar DVDs. Eu veria três ou quatro durante o fim de semana. Eu adorava conhecer pessoas que tivessem visto o que eu estava comprando, ou que me dessem conselhos e me conduzissem a filmes desconhecidos. Nada é mais atrativo que alguém querer ensinar coisas, que fazer descobertas, não sei.

Les inrocks: O primeiro ‘Twilight’ foi lançado há 10 anos. Você se sente longe do ator de 20 anos que se tornaria uma estrela com esse filme? Quais eram as expectativas dele?

Robert Pattinson: Sou exatamente o mesmo! Não tinha ideia nenhuma do que ia acontecer, mas tinha esperança. O sucesso de ‘Twilight’ me deu alguns anos eufóricos onde a minha vida era uma festa constante. Eu continuo tentando não me preocupar com o que vem depois, acreditando na sorte, isso mantém uma espécie de saúde psicológica.

Les inrocks: Então o fato de você ter se tornado uma obsessão diária de milhares de pessoas não foi uma experiência traumática?

Robert Pattinson: Para mim ficou claro que não tem nada a ver comigo. É algo que foi construído perto de mim e finalmente eu não fiquei preocupado com isso. Lembro-me de um dia enquanto andava na rua e alguém saltou em mim numa espécie de êxtase ‘Você é tão lindo!’ Me mantive calmo e disse ‘Não está falando com o rapaz à sua frente. Está fazendo alguma projeção. Aquilo em que você fixou apenas existe num ecrã ou talvez na sua cabeça, mas não à sua frente!’ Ela ficou um pouco atordoada e me deixou ir. (risos)

Les inrocks: Isso alguma vez foi um peso para você?

Robert Pattinson: Er, não realmente. Às vezes era um bocadinho demais quando as pessoas esperavam à frente da minha casa, ou me paravam quando eu estava saindo… E às vezes as divagações de promoção era um pouco chata. Lembro-me de dizer numa entrevista que não lavava o cabelo. Depois disso e durante seis meses, todos os jornalistas me perguntavam ‘Então é verdade que você nunca lava o cabelo?’. Isto, me deixou maluco! Estou feliz que os jornalistas já não me perguntem sobre o meu cabelo. Bem, mas podemos falar disso se quiser (risos).

Les inrocks: Há um paralelo perturbador entre a sua carreira e a de Kristen Stewart. Ela também tem filmes indies. Ela filmou com Olivier Assayas antes de você quase fazer. É tão estranho que ‘Twilight’ os tornou nos atores mais cinéfilos de Hollywood.

Robert Pattinson: Ensinei tudo o que sabia à Kristen (risos). Desculpe, estou brincando. Ela já fazia bons filmes antes de ‘Twilight’. Ela era mais realizada na carreira dela do que eu era na minha naquela altura. Mas é verdade que temos a mesma visão do cinema assim como em muitas outras coisas na vida. A Kristen é inteligente e tem gostos certeiros. Se os diretores mais interessantes forem até ela, ela com certeza não os deixa ir [não perde a oportunidade].

Les inrocks: Você é sensível às reivindicações na indústria do cinema sobre a igualdade homens/mulheres? 

Robert Pattinson: Claro que sou. Fiz o meu primeiro filme porque fui escolhido por uma mulher, a diretora Mira Nair (‘Vanity Fair’). Depois fiquei popular graças ao filme de Catherine Hardwicke (‘Twilight’). Filmei com Claire Denis. E de uma maior perspectiva, o meu grupo profissional é maioritariamente composto por mulheres. A minha agente e publicista são mulheres. Mas me lembro que na conferência de imprensa em Toronto, um jornalista fez uma pergunta à claro que começava com ‘Como uma diretora mulher…’ e a Claire o parou dizendo ‘Não me considere como uma diretora mulher, sou apenas uma diretora’. Num mundo ideal, o sexo dos realizadores não deveria importar.

Les inrocks: Você acha que a indústria cinematográfica é sexista?

Robert Pattinson: Posso ser cego, mas nunca testemunhei sexismo na indústria. Nada superior ao que acontece na sociedade hoje em dia. Vi alguns homens serem sexualmente agressivos com as colegas. Mas também já vi estes homens obcecados com os p**** a serem postos no seu devido lugar por mulheres ou homens no set tipo ‘o que se passa contigo, meu?’. Não acho que haja mais pancada no trabalho ou mais pessoas estúpidas ou violentas na indústria do cinema que em qualquer outra indústria. De qualquer maneira, temos de lutar contra este tipo de comportamento.

Les inrocks: Você assiste séries de televisão?

Robert Pattinson: Sim, como toda a gente. Mas não compulsivamente. Gosto de documentários. Sou apaixonado por ‘Making a murderer’, por exemplo. Mas também vejo todos os episódios de ‘Game of Thrones’.

Les inrocks: Qual é o seu personagem favorito de ‘Game of Thrones’?

Robert Pattinson: Oops, agora percebi que já vi durante 70 horas e não sou capaz de dizer o nome do meu personagem favorito! (laughs) er… Hodor! O meu personagem favorito é o Hodor!

Les inrocks: Você se sente americano? Ou se sente um homem britânico em Los Angeles?

Robert Pattinson: Eu meio que me sinto americano, eu acho. Mesmo sendo um homem britânicos nos Estados Unidos. Mas, é verdade que mesmo que partilhemos a mesma língua, há duas identidades diferentes, duas culturas diferentes, e eu me sinto a flutuar entre as duas.

Les inrocks: Você se interessa na política americana? As eleições intermédias representam alguma coisa para você?

Robert Pattinson: Não voto nos Estados Unidos, mas estou completamente ciente do que está se passando. Sabe que eu fiquei completamente atordoado com o Brexit. Também pela violência e futilidade dos debates políticos durante o referendo da Inglaterra. Cada partido descreditou o adversário com insultos e mentiras. Estava um clima muito violento e foi difícil compreender tudo. Hoje, mais uma vez, nos sentimo como se estivéssemos a ser cortados da verdade enquanto vemos os canais de notícias dos EUA. Contradições de um lado e de outro. Então o clima político aqui é realmente pesado. Mas de todos os aspetos, sinto-me mais à vontade com os liberais do que aos conversadores.

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