Depois da exibição de Sils Maria em Cannes, várias críticas estão surgindo sobre o filme e seus envolvidos. Agora foi a vez do site britânico The Guardian explicar um pouco mais da história, e falar sobre o que achou do desempenho do longa e um pouco de Kristen. Confira abaixo:
(O texto contém pequenos SPOILERS sobre o filme.)
Cannes 2014 review: Clouds of Sils Maria
O melodrama de Olivier Assayas aplica o bálsamo ao final do 67° Festival de Cinema de Cannes. Nos últimos 10 dias, os dignatários foram submetidos a cenas de alcoolismo e tortura, incesto e lutas religiosas. Clouds of Sils Maria, no entanto, não está aqui para desapontar e reafirmar os princípios fundamentais. Ele diz aos convidados que a grande arte vale a pena o esforço e que os atores são uma raça nobre, um corte acima da maioria. Não é de se admirar que eles viram a coisa toda ser aplaudida com uma salva de palmas.
Se o filme de Assayas não é uma grande arte por si só, é, no mínimo, generosamente encenado com convicção. Juliette Binoche protagozina como Maria Enders, um talento luminoso de meia-idade que ganhou a fama interpretando Sigrid, uma lésbica de 18 anos em um drama. Agora um novo diretor quer mudar a peça, dessa vez lançando Maria no papel de Helena, a amarga e frágil amante mais velha. Maria está relutante, mas o diretor insiste. “Sigrid e Helena são a mesma pessoa,” ele explica. “E porque você foi a Sigrid, só você pode interpretar a Helena.”
Maria recebe uma jovem rival na forma de Jo-Ann (Chloe Grace Moretz), a infernizante aspirante a estrela de Hollywood, recém-saída da rehab. No entanto, Assayas é mais interessado na dinâmica entre Maria e Val (Kristen Stewart), a assistente pessoal da atriz, que usa seu Iphone em uma mão e o BlackBerry na outra. O relacionamento aqui é muito bem desenhado, com Stewart novamente demonstrando a atriz fantástica que ela pode ser longe da sombra de Crepúsculo. Ela é afiada e ágil; ela combina com Binoche. Sentando-se para jantar, em uma cena reveladora, Val dá sua chefe como esnobe e afirma que as fantasias de grande sucesso também podem ser válidas, à sua maneira. Maria arqueia delicadamente sua sobrancelha. Mais uma vez, ela não está convencida.
É imediatamente evidente que as duas mulheres são próximas, na fronteira da claustrofobia. Maria e Val se amam e vivem juntas, mas a amizade delas nunca esteve num pé de igualdade. Passando e repassando um cigarro, elas passam a ensaiar a velha peça até o ponto em que as tensões que ocorrem entre elas são destacadas e definidas. Nós percebemos que Val é a verdadeira Sigrid nesse filme.
Assayas é um diretor flexível, brincalhão e confiante cuja eletricidade do trabalho tem abraçado a sátira mercurial (“Irma Vep”), um drama de época (“Sentimental Destinies”) e um thriller terrorista (“Carlos”). Ele é um homem de sucesso e demonstra isso aqui, de uma maneira boa e ruim. No seu pior, Clouds of Sils Maria se parece com um processo de se fazer um filme incorporado. É o estudo da elite artística. O filme nos dá “All About Eve” sem a mordida, e “Bergman’s Persona” sem a angústia. Mas compensa com o seu calor, compaixão e autoridade própria.
Assayas sabe o que está fazendo; é profissional. O script foi polido e, os atores, ensaiados. O palco está pronto para uma obra que vai do festival para o restante das pessoas. O diretor fecha as cortinas com um farfalhar satisfatório.
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