A Wonderland Magazine foi para as bancas hoje e podemos finalmente conferir as fotos e entrevista da edição em que a Kristen é capa. Kristen fala na entrevista sobre sua infância, feminismo, American Ultra e até revela alguns detalhes sobre seu curta. Confira:
Outtakes
Era véspera de Ano Novo quando eu recebi a ligação dizendo que Hedi Slimane adoraria fotografarKristen Stewart para a nova capa de fevereiro. Meses na calha, as coisas estavam finalmente tornando-se realidade e a sessão de fotos aconteceu dois dias depois. Ex-estrela mirim tornou-se a realeza de Hollywood. Kristen e Hedi Slimane, diretor criativo da Saint Laurent – dois dos mais relevantes ícones na moda e do cinema – passaram uma tarde juntos em Los Angeles e o resultado fala por si só. Entrevistada pela colunista de sexo da Vogue, Karley Sciortino, Kristen fala sobre crescer nos holofotes, tentar a comédia e aprender a “se perder” com Julianne Moore.
De todas as atrizes de Hollywood, Kristen Stewart é a mais legal, sem esforços. Com seu cabelo cortado para trás, estilo tomboy, ela é uma beleza andrógina impressionante. Ela é como aquela garota da sua escola que você admirava por seu mistério e confiança, e que você meio que odiava por sua habilidade de fazer até moletom parecer estiloso. Stewart é distintamente diferente de muitas atrizes de sua idade – não há nenhuma pompa ou circunstância, não há presença em redes sociais ou selfies, e sem paparazzis acidentalmente de propósito tirando fotos dela saindo de uma balada. Ela é mais discreta do que isso, uma qualidade que vem com a atriz não só em sua personalidade, mas em seu modo de atuar. Ela é sutil e não exagera. Com Stewart, é mais sobre o monólogo interno. É tudo sobre os olhos, aqueles olhos verdes penetrantes que são ao mesmo tempo suaves, selvagens e ameaçadores.
Stewart tinha apenas 17 anos quando foi escalada com Bella Swan em Crepúsculo, a saga romântica de vampiros que a fez uma estrela internacional e provou que ela podia ser a âncora de uma franquia de cinema multibilionária. Mas ela não fica em apenas um caminho. Em dois anos apósCrepúsculo, ela se afastou dos blockbusters de Hollywood e se reinventou como a rainha dos filmes indies, com papéis aclamados pelos críticos como em Camp X-Ray, Acima das Nuvens e o atual concorrente no Oscar, Para Sempre Alice. E com três novos filmes para serem lançados em 2015, nada irá parar Stewart. Ela é inquieta e imprevisível, como todo rebelde deve ser.
Nós nos encontramos em uma tarde de segunda-feira no Cafe Figaro, uma lanchonete em Los Feliz. Ela está com uma camisa rasgada, calça larga e maquiagem de ontem. Ela tem um aperto de mão forte. Stewart cresceu em LA, filha de pais da indústria do cinema. Mas ela não teve a glamurosa infância de Hollywood que você deve estar imaginando. Sua casa era em San Fernando Valley – conhecida por seu calor, estúdios de pornô e um certo tipo de garota jovem que passa muito tempo no shopping e fala com voz aguda. Sua mãe é uma supervisora de roteiro e seu pai é gerente de palco, mas Stewart diz que eles nunca foram “pais de palco.” “Meus pais ficaram chocados com o meu interesse em atuação porque eu não era o tipo de criança teatral,” ela diz. “Eles rapidamente me informaram da improbabilidade de me tornar uma atriz de sucesso.” Ela se lembra de seus primeiros anos de audições sendo infrutíferos. “Todos achavam que eu parecia com um menino,” ela ri. Mas seus pais concordaram em continuar levando-a em audições, principalmente por causa do interesse crescente de sua filha no processo de produção de filmes. “Eu basicamente cresci em um set de filmes e eu adorei estar naquele meio,” ela diz.
Stewart conseguiu seu primeiro papel com 9 anos, interpretando uma “tomboy” em The Safety of Objects de Rose Troche. Sua chance veio dois anos depois quando, aos 11 anos, ela estrelou ao lado de Jodie Foster em O Quarto do Pânico, de David Fincher – novamente interpretando uma “tomboy”. Era um papel para sua vida real. Quando era adolescente, tiravam sarro dela porque ela usava as roupas de seu irmão, não depilava as pernas e basicamente se recusava a ser uma garota típica de Valley. Com 14 anos ela saiu da escola e optou por aulas particulares. “Minha infância foi de uma forma bem livre,” ela lembra. “Eu fui bem na escola, mas eu nunca senti pressão. Sempre me permitiram encontrar meus próprios interesses e ir atrás deles.”
Esse jeito de natureza livre aparentemente influenciou na sua escolha de filmes. Ela disse muitas vezes que sua abordagem para a escolha de papéis é intuitiva e não pragmática – “só preciso sentir, deixar o roteiro me destruir.” Ainda com 24 anos, seu trabalho está em todo o lugar do mapa, provando tanto seu alcance como atriz e sua vontade de correr riscos. Nomeando alguns: aquele dirigido por Sean Penn – Into the Wild; a adaptação da bíblia hipster de Jack Kerouac, On the Road; The Runaways, onde ela interpreta Joan Jett; seu papel como Branca de Neve no blockbuster Branca de Neve e o Caçador; e sua performance, ano passado, como uma soldado emGuantanamo Bay, em Camp X-Ray de Petter Sattler. Stewart será a primeira a dizer para você o quão “totalmente sortuda” ela se sente por ter a oportunidade de interpretar em uma variedade tão grande de papéis complexos, porque ela sabe que tais papéis são limitados na indústria.
Nos anos recentes, os papéis para as mulheres em Hollywood – mais especificamente, a falta de – tornou-se um tópico muito falado. Não é segredo que as mulheres são vastamente sub-representadas no cinema e na TV, tanto nas telas quanto nos bastidores. No Oscar de 2014, Cate Blanchett usou seu discurso como Melhor Atriz para chamar atenção para mais papéis femininos, criticando aqueles da indústria que ainda “estão tolamente apegados à ideia de que os filmes femininos, com mulheres no centro, são um nicho de experiência.” Em uma nota mais otimista,Maggie Gyllenhaal, enquanto aceitou seu Globo de Ouro no mês passado, comentou que ela sentiu uma riqueza em papéis interessantes para mulheres, o que ela disse ser “revolucionário e evolutivo.” Eu me pergunto se Stewart, estando na indústria há 15 anos, sente que Hollywood está começando a perceber a falta de papéis complexos para mulheres.
“É impossível negar que os bons projetos para as mulheres se destacam como pedras de sílex em terra seca e com crosta”, diz Stewart. “É verdade para mulheres com a minha idade, o que é o motivo pelo qual estamos todas pulando vorazmente para esses projetos. Eu acho que as mulheres sempre tiveram que lutar um pouco mais, e eu não acho que isso irá mudar instantaneamente. Mas eu acho que Maggie está certa e as coisas estão indo para frente.” Apesar do fato de que a maioria dos espectadores são mulheres, ela nota, os papéis masculinos dominam a tela porque os estúdios e produtores pensam que é “seguro”. Isso é uma ideia completamente arcaica. “Nós vendemos a nossa audiência por pouco,” ela continua. “Nos dias de hoje, os filmes são financiados quase por um medo sistemático, tipo, ‘ok, esse projeto vai garantir o meu pagamento’, ou ‘esse filme vai me dar o meu dinheiro de volta, baseado nessa equação criada por esse cientista.’ Não há mais riscos. E é bem clichê dizer, mas para fazer coisas boas, nós temos que correr riscos.”
Stewart pausa, seu rosto ficando um pouco tenso, e ela organiza seus pensamentos cuidadosamente, sem dúvidas se dando conta de que suas palavras podem ser distorcidas facilmente, fazendo-a soar ingrata. “É bobo interpretar a advogada do diabo quando se tem uma conversa sobre papéis femininos em Hollywood, porque você tem essa coisa de ‘feminismo reverso’ que se tornou algo estranhamente em foco recentemente. Eu sinto que algumas meninas da minha idade não dizem ‘claro que sou feminista e claro que acredito nos direitos iguais para homens e mulheres’, porque há implicações que vão com a palavra feminista que são muito agressivas. Muitas meninas hoje em dia são tipo ‘eca, eu não sou desse jeito’. Elas não entendem que você não precisa concordar com todas as coisas que o feminismo defende.” Ela credita o contragolpe ao feminismo à falta de conhecimento sobre o assunto – um tema que também foi abordado por Emma Watsonem seu recente discurso na ONU sobre igualdade dos gêneros e feminismo. “Foi muito legal o que ela fez,” Stewart diz entusiasmada por Watson. “Foi muito foda.”
Stewart vive sua vida dentro de um microscópio. Enquanto isso é a verdade para muitos famosos, é intensificado quando você é a principal em uma enorme franquia e uma das mais bem pagas de Hollywood. Ultimamente, há especulações sobre sua sexualidade, que parece ser baseada apenas na sua preferência por tênis e jeans ao invés de micro vestidos justos, e o fato de que ela é vista ocasionalmente perto de suas amigas – que grande escândalo.
“Sua vida se torna esse show exibido para o consume do público,” ela diz. “Eu provavelmente fui seguida até aqui, e eles vão fotografar cada expressão que faço e imaginar o que isso significa, e então esse é o show de hoje à noite. E algumas vezes eles conseguem algo verdadeiro, mas na maioria é tudo falso.” Sua atitude rebelde e desviada da norma de Hollywood apenas alimenta a mídia a intrigar sobre sua vida privada, que tem sido continuamente sondada e dissecada desde que ela tinha 17 anos. O microscópio da fama deixa pouco espaço para as experiências e as tribulações da auto-descoberta, livre de controle – sejam essas profissionais, pessoais, sexuais ou estéticas. Aqueles que se tornaram famosos durante a adolescência sabem melhor do que ninguém.
Já foi dito muitas vezes que Stewart se sente desconfortável no centro das atenções, que ela é estranha e nervosa durante as entrevistas e que ela faz carranca no tapete vermelho. Mas quando você está fazendo essa observação, tem que considerar que, hoje, o padrão do mundo para “ser confortável no centro das atenções” é Kim Kardashian. Certamente a maioria dos artistas iria parecer instável na comparação. Para mim, Stewart parece muito feliz e capaz de seu papel como uma atriz e estrela de Hollywood. Mas há uma diferença entre ser feliz e capaz e ser uma ‘famewhore’, e hoje em dia estamos menos perplexos com o último. “As pessoas não aceitam que alguém demonstre um desconforto no centro das atenções,” ela diz. “Você tem que engolir cada pedaço da fama como se fosse um raio de sol. Mas eu acho que é realmente assustador que a fama tem um valor tão alto, até acima da felicidade. Eu amo fazer filmes, mas não faço meu trabalho para ser uma pessoa famosa.”
Apesar da falsidade do boato, Stewart continua a ser agressivamente si mesma e não pede desculpas – algo que seus fãs e colegas a elogiam consistentemente.
Isto é evidente em seu estilo e sex appeal indiferente, o que a levou a ser o rosto de duas fragrâncias da Balenciaga e da campanha de 2014 da Chanel. “Apesar do meu estilo padrão, eu passei muito tempo nesse mundo com as piores pessoas que eu já conheci, mas também com as mais interessantes e gentis,” ela ri. “Na moda, os bons se destacam. Chanel tem sido muito consciente de trabalhar com pessoas que interessam eles, eles são muito bem orientados. Quando eu era mais nova, isso me fez me sentir mais confortável em um mundo que era tão desconfortável pra mim.”
Iremos ver Stewart em três novos filmes este ano, incluindo Equals, um romance futurístico comNicholas Hoult, e a comédia American Ultra, um filme sobre drogados que ela estrela ao lado deJesse Eisenberg (que foi seu co-star em 2009 em Adventureland.) “É como ‘A Identidade Bourne’ para aqueles que gostaram de Adventureland,” ela diz sobre American Ultra. Com uma filmografia tão diversa, essa é sua primeira comédia e você pode dizer que ela está nervosa sobre isso. “Eu espero que eu esteja engraçada,” ela diz com uma sinceridade cativante. “Eu espero que eu complemente Jesse, porque ele está histérico. Mas eu levo tudo tão a sério!” Ela ri. “Eu não sei… Meus amigos me acham engraçada, mas tipo, se Emma Stone interpretasse o papel, ela seria hilária.” Não é sempre que você encontra uma atriz de Hollywood tão humilde a ponto de elogiar o papel de outra pessoa acima do dela. Mas isso é comum de Stewart. Ela fala abertamente sobre seus defeitos e medos, especialmente quando se trata das borboletas que ela está sentindo sobre seu próximo passo: direção.
Stewart sabe que sua fama como atriz vai ser tanto uma benção quanto uma maldição quando ela for para trás das câmeras – junto com a audiência vem a expectativa. Mas por agora, ela tem escrito e planejado muito. “Eu escrevi um curta bem legal que estou muito orgulhosa. É mais abstrato do que super narrativo. É como um poema; é sobre água. As pessoas perguntam ‘por que não dirigir um filme?’ Mas eu quero brincar um pouco. Eu quero ter experiência.” Ela é uma grande fã de John Cassavetes, que foi pioneiro do cinema de improvisação, e de cinéma vérité. Stewart fala sobre seu estilo de produção como uma influência. “Eu acho que a primeira coisa que irei fazer é viver entre os momentos.”
Quando questionada sobre atores que ela admira, ela rapidamente cita Gena Rowlands, a esposa de Cassavete e colaboradora de muito tempo. “Gena Rownlands é a melhor,” ela diz, “mas, você sabe, essa é a resposta óbvia.” Outras influências incluem Catherine Keener e Julianne Moore, que interpreta a mãe de Stewart em Para Sempre Alice.
“Ela é tão legal, ela apenas flutua,” diz Stewart sobre Moore. “Trabalhar com Julianne me fez sentir melhor sobre o jeito que eu atuo, o que pode ser bem técnico. Eu estou tão interessada nesse processo de fazer filmes que eu não posso ser uma dessas atrizes que se perdem e não sabem onde a câmera está. Eu sempre sei onde ela está. Eu sou a atriz mais irritante, sempre indo tipo ‘você sabe, talvez você deveria se afastar um pouco e filmar as duas.’ Julianne é inegavelmente talentosa, mas ela ainda é um pouco como uma cirurgiã. Então ela me fez sentir como talvez eu não me perca tanto quanto os outros atores, mas está tudo bem.”
Essa visão técnica irá ajudá-la sem duvidas quando ela for para trás das câmeras. Mas apesar de ser controlada, Stewart se recusa a ser amarrada. “As melhores experiências que eu tive foram as que todos estavam tentando encontrar algo, mas não estávamos certos do que era. Você se dá tempo para meditar, e no final você percebe o motivo pelo qual todos ficaram juntos. Eu não quero saber exatamente para onde estou estou indo, eu quero descobrir.”
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