Entrevista da Esquire com Kristen e Olivier Assayas sobre Personal Shopper

By Kah Barros - 14:29


Construir uma cena de suspense em cima de bolhas de mensagem de texto foi um desafio único de atuação, direção e edição.

Stewart: Aqueles. Três. Pontos. Suspeitos. Ou não? Ou apenas muito excitante. Aqueles três pontos podem ser qualquer coisa. Oh meu Deus, quantas vezes você já ficou tipo, esperando, e então eles sumiram? Oh, você já deletou tudo o que você estava escrevendo?

Assayas: Quando escrevi a cena, eu pensei que seria fácil e simples, então vamos filmar. Depois, eu percebi como cada elemento tem esse grande efeito na dinâmica de toda a cena. Nós refizemos muitas das mensagens, porque algumas não tinham os pontos, algumas tinham, e os pontos são importantes, mas também o ritmo da digitação. É atuação, é atuação tanto quanto as falas.

Um celular é surpreendentemente um ótimo parceiro de atuação.

Stewart: Sinceramente, é o melhor ator de todos. Eu posso projetar tudo o que eu quero nele. Era apenas frustrante quando não tínhamos sinal. Era tipo, “vamos lá!” Era muito frustrante, porque se tínhamos a emoção certa ou algo assim e o timing não era certo, era irritante.

Stewart quase se tornou a co-diretora do filme.

Assayas: O significado desse filme, o que quer que esteja acontecendo nele, é algo que é baseado em uma história que eu construí. Mas a realidade dele, a expressão dele, é o rosto que Kristen empresta em cada cena. O ritmo, a duração, qualquer coisa que acontece na cena é definido por como você procura a realidade. É sobre o processo de sentir de dentro para fora e expressar isso do jeito mais verdadeiro possível. É realmente o que vemos na tela, e foi o que eu vi enquanto estávamos filmando. Basicamente, Kristen passa tanto tempo sozinha nesse filme, que ela dirige de dentro.

Stewart: Eu nunca trabalhei com alguém que era tão pouco controlador e mutuamente comprometido. Geralmente parece ser de um lado só, como estivessem me dizendo algo e então eu mostro isso e concordamos, e então nós ficamos mais próximos. É legal que nós concordamos, mas com Olivier eu nunca senti menos expectativa e mais orientação.
Personal Shopper foi a chance para Stewart lidar com o luto.

Stewart: Em Personal Shopper, eu fiquei tipo, “Oh cara, isso vai me matar, eu posso sentir.” Eu tenho experiência com perda, não tenho experiência com luto. Eu acho que existem poucos catalisadores que te enviam essas perguntas sem respostas que são muito necessárias. Não são satisfatórias porque não há solução, mas elas são necessárias para seguir em frente. Pode ser um evento muito traumático como morte ou perda em grande escala, ou ansiedade física extrema. Eu sou tão física que algumas vezes eu sou muito limita por isso, e começa um processo de pensamento que para mim é o mesmo que Maureen tem, que é, “isso é real? Eu nem sei se eu vou superar isso, eu posso não conseguir.” Então, eu sabia, é doloroso e assustador, e o único jeito que poderíamos fazer isso de verdade seria abandonando todas as suas configurações padrão e se tornar honesto sobre como incapazes e desconhecidos nós somos, ao invés de confiar em todas essas construções que você fez para poder seguir em frente. Isso te torna um alienado e você se torna um estrangeiro para todo o mundo.
Stewart sempre quis ser diretora, e estreou seu primeiro curta no Sundance em janeiro.

Stewart: Eu sempre quis dirigir. Eu comecei a atuar porque eu queria dirigir, e eu tinha 10 anos, então isso não ia acontecer naquela época. Eu acabei de fazer um curta, finalizei agora. Eu gosto da ideia de que você pode ter um pensamento que te mantém acordado a noite, mas se você tem outras pessoas para ajudar, você pode realmente pensar sobre algo indulgente por tanto tempo e tirar algo disso, isso é o que a arte permite que as pessoas façam. Colocar para fora algo tão incrivelmente interno é muito satisfatória. Também há uma grande responsabilidade, é muito presunçoso ficar tipo, “vamos lá pessoas, vamos nos juntar e fazer isso.” É muito caro. É um meio realmente elitista.
Enquanto ela não se considera exibicionista, Stewart ama se expor em sua arte. 

Stewart: Tudo o que eu quero é compartilhar essa merda. Eu amo isso. Eu não sou exibicionista, mas eu amo me expor. Porque assim que algo se torna real para outra pessoa e alguém vê, ou você encontra a palavra certa para algo, isso pode existir. Porque se ninguém vê então talvez não esteja lá. Você sabe, estamos falando sobre o invisível o tempo todo, mas se você destacar o invisível e isso confirma algo para você, então você não é mais louco.

Para Assayas e Stewart, filmes são uma expressão conversacional e colaborativa mais do que qualquer outra coisa, e diretores controladores e com muito ego não fazem seu estilo. 

Assayas: Eu acho que filmes são uma forma coletiva de arte. Você compartilha. Você coloca algo em movimento e no centro está seu ator. Eu não dirijo atores, eu trabalho com atores. Também há algo sobre as energias em nossa volta que cria algo. Os filmes, eles expressam algo que é universal de um jeito ou de outro.

Stewart: E eles conversam, também. Você pode ver uma troca. Não há impulso em fazer um filme de um lado só. É tudo sobre comunicação. O desejo de comunicar é o desejo de conectar. É engraçado, esses diretores cheios de ego ficam tipo, “Eu fiz minha obra!” Eu nunca gosto desses filmes.
É claro, no fim do dia é o diretor que toma responsabilidade. 

Assayas: Eu acho que você canaliza energias. Você é o único responsável por tudo no final. Eu acho que foi o general francês na Primeira Guerra Mundial que disse, “Eu não sei quem ganhou essa batalha, mas eu sei quem será culpado se fosse perdida.”

Stewart: É verdade. Se esse filme fosse ruim, eu ficaria tipo, “Deus, ele estragou tudo.”


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