Como uma atriz mirim crescendo
nos sets de filmes como O Quarto do Pânico e Segurem Essas Crianças, Kristen
Stewart aprendeu cedo a prestar bem atenção nos diretores por trás das câmeras.
“Aquele é o seu chefe,” ela fala ao Yahoo Entertainment sobre suas primeiras
memórias de assistir os cineastas no trabalho. “Você procura essa pessoa para
tudo. Quando um filme é muito bom, precisa do esforço de muitas pessoas. Mas o
que começa é algo tão único de uma perspectiva específica. Mesmo quando eu era
pequena, eu sabia que meu trabalho era escutar essa perspectiva e segurar como
se fosse preciosa. E mesmo quando eu era criança, eu fiquei tipo, ‘Eu gostaria
de segurar isso algum dia e compartilhar!'”
Avançando para o presente, a
atriz de agora 27 anos está compartilhando sua própria estreia como diretora
com o mundo, o poderoso curta Come Swim. Após estreá-lo no Sundance em janeiro,
a produção de 17 minutos está sendo lançada hoje como parte da Shatterbox
Anthology do Refinery 29, que fornece uma plataforma para jovens mulheres
cineastas. Estrelando o ator de primeira viagem Josh Kaye, Come Swim cresceu de
uma imagem recorrente que grudou na mente de Stewart anos atrás e se tornou um
elemento fundamental para o retrato meio realista meio impressionista de um
homem que tem a mente inundada de memórias de um relacionamento fracassado, a
um ponto onde ele sente que está se afogando em terra firme.
Nós falamos com Stewart sobre
como ela se relaciona com o personagem que vemos na tela e se ela tem o desejo
de dirigir um filme grande como Crepúsculo.
Você disse que a ideia de Come
Swim veio da imagem de um homem dormindo no chão do oceano. De onde veio essa
visão?
Inicialmente, eu estava apenas
fixada na ideia de uma pessoa que está ciente do que é essencial para ela –
aquilo que ela realmente necessita – mas não é capaz de absorver. Então mesmo
no fundo do oceano, o lugar mais hidratado do mundo, ela está seca. Quando você
está sozinha com a sua mente, sua dor e dificuldade parece tão dramática e sem
relação com ninguém. E mesmo assim tão universal! Não existe um sentimento que
ninguém mais sentiu antes de você. Uma vez que você sente, parece muito
consumidor, mas quando você pára pra ver, você pensa, “O que eu estive
fazendo?”
Exatamente. Ele está se punindo
com essas memórias e não consegue organizá-las. Ele não consegue colocá-las em
um lugar fácil de processar. Eu queria colocar para fora um som muito interno.
Quando ele começa, ele sente que as coisas estão passando rapidamente por ele,
e ele não consegue segurá-las, mas elas também não vão embora. É sobre acordar
de manhã e pensar, “Uau, eu posso usar a minha mente! Não está me controlando.”
Quando você está nesse estado, as coisas parecem difíceis.
Existe algo sobre o mundo moderno
que faz isso ser pior? Você coloca o personagem em cenários como um escritório
e no banco da frente do carro, onde há muita estimulação.
Eu queria colocá-lo em lugares
que eram normais, cenários sem muitos detalhes. Nós não temos muito tempo para
conhecer esse cara, então eu queria que você focasse em suas próprias
normalidades como acordar e ir trabalhar. Mas ele também está muito apertado:
seu cubículo no escritório é pequeno, o carro é pequeno. Somente quando ele sai
e encontra o oceano que ele se permite respirar. Ele se arrepende desse
relacionamento que o levou a uma crise existencial, e apesar de odiar nadar e
água, ele percebe que precisa boiar. A água é mais forte que nós, e se você
lutar contra ela, você irá se cansar e se afogar. Mas se ele se permitir
parecer bobo e boiar na água, quando ele sair ele vai estar com frio, mas ele
também vai perceber que ele não pode tentar controlar tudo.
As circunstâncias do personagem
são intencionalmente universais, mas ao trabalhar com Josh Kaye você descobriu
que homens e mulheres possuem respostas diferentes para esse tipo de estado
mental?
Eu acho que há grandes diferenças
entre nós dois, mas mais em um nível individual. Não tem muito a ver
necessariamente com gênero. O personagem na história não sou eu
necessariamente, mas eu quis estar o mais próxima possível. A maior diferença
entre nós é que eu sou um pouco mais explosiva. Algumas coisas no filme eu
fiquei muito animada por não ter feito, porque ele ri forçadamente e aguenta
calado enquanto eu acho que eu seria mais dramática. Ele nunca atuou em nada
antes, então ele não estava tentando provar nada para mim. Ele estava
realisticamente nesse cenário e permitiu que algumas memórias mexessem com ele.
Você incorporou pinturas que você
fez no filme com um processo chamado “neutral style transfer”, se opondo ao
tradicional CGI. Esse foi um processo que você desenvolveu?
Não, eu tenho uma amiga que
trabalha em uma casa de efeitos visuais e ela era familiar com a pesquisa de
Bhautik Joshi. Eu falei com ela sobre minhas pinturas e como queria que fosse
ilustrado no filme; eu queria que partes do filme fossem como uma pintura. Eu
falei muito sobre granular e como fazer isso, e ela me disse sobre esse cara
que podia pegar uma pintura e aplicar esse estilo em vídeo. Então ele nos
ajudou, mas eu acho que foi algo que ele criou, e quando o filme estreou foi
uma boa chance para ele falar sobre esse processo. Tive sorte de poder fazer
isso e colocar essas duas coisas juntas. [Stewart está listada como co-autora
de um trabalho acadêmico sobre o processo que está arquivado na Universidade
Cornell.]
Trabalhar em grandes filmes como
Crepúsculo ou Branca de Neve e o Caçador fez você se recusar a incorporar o CGI
nos seus filmes?
De jeito nenhum. Inicialmente eu
pensei que precisaria de muito trabalho digital em Come Swim. Eu tinha essa
lista longa de cenas, mas após as filmagens eu comecei a cortá-las da minha
lista durante a pós-produção, pensando que não precisava delas. Nós fizemos o
mínimo de trabalho digital, porque tudo que fizemos fisicamente foi tão legal.
Todo o trabalho de maquiagem no Josh foi prático e funcionou. Eu realmente
gosto quando você precisa usar pouco CGI para corrigir as coisas e melhorá-las.
Se você pode conseguir o que máximo enquanto tira fotos, é isso que parece mais
digital
.
Você gostaria de dirigir um filme
de grande orçamento ou isso não é interessante para você?
Talvez, porque eu gosto de sair
da realidade – não de um jeito que é fantasia, mas entrar na cabeça de alguém e
me sentir incorporada em algo interno. Porque muitas vezes não é o que você
está vendo do lado de fora. Então eu acho que eu vou querer fazer filmes
pequenos; eu não tenho interesse em fazer filmes grandes, apesar de gostar de
trabalhar neles como atriz.
Um de seus primeiros filmes foi O
Quarto do Pânico, dirigido por David Fincher. Você se lembra de observar alguma
parte de seu processo que você levou para o seu próprio trabalho?
Esse foi o segundo filme que eu
fiz. Eu tive sorte de ter essa experiência tão jovem porque foi muito intenso e
pelas razões certas. Eu sempre quero estar em filmes onde se você precisa trabalhar
até cansar e se precisa te machucar e você precisar fazer de novo e de novo,
você ganha algo que realmente importa a qualquer custo. Você faz qualquer coisa
para conseguir isso. Esse sentimento provavelmente começou nesse filme.
Certamente parece que os fãs que
cresceram com você durante os filmes de Crepúsculo estão abraçando o seu
trabalho agora. Você está consciente de como eles estão vendo você se
desenvolver como artista, e você espera que eles aprendam com você como
desenvolver suas próprias vozes criativas?
Sim, claro. Ninguém é tão
especial para ter um pensamento original ou sentir algo que ninguém tenha
sentido antes. Mas eu realmente sigo meu instinto sobre as coisas que me atraem
artisticamente e espero que alguém lá fora também se sinta assim. Por isso, eu
tenho sorte. Eu não penso sobre a maior narrativa da minha vida ou altero
minhas decisões para dizer algo para as pessoas. Mas eu sinto que se você for
honesta sobre alguma coisa e está explorando algo que vale a pena, outras
pessoas também estarão interessadas nisso.
0 comentários