(...) Robert Pattinson e Susan Sarandon compartilham a capa desta edição, duas estrelas internacionais que se dedicam a projetos independentes e não têm medo de assumir riscos e danificar sua imagem. Em Cannes, Pattinson irá apresentar um filme excêntrico e profundo, Good Time dos irmãos Safdie, um projeto de baixo orçamento que foi escolhido na seleção oficial! Para Crash, Pattinson passou pelo estúdio do artista Torbjørn Rødland, que fotografou o ator em uma luz única e brincalhona. (...)
Transcrição da entrevista
Ele se tornou uma estrela internacional aos 22 anos, graças ao seu papel de vampiro na saga Crepúsculo, com a sua performance de mestre em Cosmópolis de David Cronenberg, Robert Pattinson começou a mudar definitivamente a sua imagem. Desde aí, ele está à procura de trabalhar em projetos caseiros (indie) e em filmes muito diferentes. Em Cannes, ele apresentará um personagem que está muito distante dos padrões do Festival, em Good Time dos irmãos Safdie. Esta produção indie está na seleção oficial do festival. Depois de Cannes, são as filmagens com Claire Denis que esperam por ele. Para a revista Crash, ele aceitou ser fotografado pelo artista Torbjorn Rodland e, mais uma vez, não hesitou em mudar a sua imagem... Torbjorn Rodland terá uma exibição em Paris, na La Galerie de Paris em Junho.
Como foi fotografar com Torbjorn Rodland? Ele é um verdadeiro artista. Normalmente ele mostra o seu trabalho em museus e galerias. Não é um clássico fotógrafo de moda.
Foi divertido. Foi um ensaio fotográfico interessante e muito diferente dos outros. Sim, foi um ensaio interessante. Eu realmente adoro o seu trabalho e ele me deu seu livro. Ele é realmente brilhante.
Vamos falar sobre o seu próximo filme, Good Time. Como é que você conheceu os diretores, os irmãos Safdie?
Vi Heaven Knows What há muito tempo atrás. Havia algo mágico na energia de Arielle Holmes, a estrela do filme. Então contactei Josh e Benny e me encontrei com eles em LA. Adorei-os. Eles têm uma energia incrível e senti que alguma coisa boa podia ser feita. Durante aquele primeiro encontro, eu realmente prometi a mim mesmo fazer qualquer coisa que eles me pudessem propor. Considerando o que eles têm feito até agora, acho que estava certo.
Sentimos essa energia desde o início do filme. É realmente dramático, a música é boa, é um filme original e muito diferente... E é também um filme totalmente diferente.
Sinto o mesmo em relação ao filme: é muito original tendo em conta todos os filmes que são lançados hoje em dia. Ninguém faz filme como eles. Então estou realmente animado para ver como os espetadores vão reagir. As filmagens correram muito bem.
E é uma produção pequena.
Sim, muito pequena. Mas colocamos muita energia nisso. Foram filmagens muito intensas: pelo menos, 16 horas de trabalho por dia. No final, ficamos com muito material e podíamos ter feito três ou quatro filmes!
Quer trabalhar com eles outra vez?
Claro! Faria qualquer coisa com eles. Num estalar de dedos!
Good Time é também um filme muito movimentado. Fala de dois irmãos – um deles tem problemas mentais e o irmão mais velho tenta ajudá-lo. Como você vê a relação deles?
Um dos irmãos, Nick, é mentalmente instável e Connie, meu personagem, é um bocado maluco também! Ele não é um cara racional que toma decisões normais e racionais. Ele começa a se convencer que consegue fazer tudo o que quiser, desde que seja pelo irmão. Mas na verdade ele não para de tomar decisões desastrosas. Ele não está ligado mentalmente ao mundo. Antes das filmagens, trabalhamos profundamente na história da relação entre Nick e Connie. A nossa ideia era que Connie e Nick não fossem muito próximos. Connie apenas saiu da prisão e está consciente do fato de ter que recriar o laço com o seu irmão, mas ele não o conhece bem. Então não é uma relação normal.
Connie não tem família. Só tem o irmão.
Sim. E quando você olha para o personagem, é realmente o típico cara que é rejeitado pelo seu meio. Acho que todos conhecem alguém assim, alguém que está apenas testando os limites das pessoas à sua volta para o ver o que eles irão aceitar. A família rejeitou-o há muito tempo.
É importante para você que um filme como este tenha sido selecionado para Cannes?
Oh, claro que sim. Especialmente quando sabe como o filme foi filmado, dia após dia. Começou por ser muito pequeno e correu muito bem. Adorei desde a primeira vez que o vi. E Cannes é, também, o meu local favorito para mostrar filmes. É realmente uma experiência diferente, mesmo quando compara com outros festivais de cinema. Acho que os irmãos Safdie merecem realmente estar lá, especialmente em competição. Fiquei tão feliz quando soube que ele tinha sido selecionado para a seleção oficial.
Você apareceu em grandes projetos. É importante para você trabalhar em pequenos filmes indie?
Sim, mesmo que não tenha feito nenhum blockbuster desde muito tempo. É muito difícil encontrar projetos pequenos interessantes. Alguém pode ter um roteiro muito bom, mas não tem tudo o que é preciso para fazer um bom filme. Os irmãos Safdie são artistas fascinantes. Todas querem trabalhar com pessoas como eles. Fui extremamente sortudo.
Também fizeste dois filmes com David Cronenberg. Como foi trabalhar com ele?
Filmei Cosmópolis com ele há cerca de cinco anos atrás. Foi uma experiência totalmente nova para mim. Eu nunca imaginei que seria capaz de fazer filmes como aquele e de trabalhar como pessoas como o Cronenberg. E porque David confiou em mim, o meu destino tomou outro rumo e mudou completamente a minha vida. David é mesmo o melhor.
É o melhor diretor com quem trabalhou?
Todos eles são muito bons, mas os filmes do David são diferentes. Vi Videodrome outro dia. Ele fez filmes no início dos anos 80 que são totalmente diferentes, até mesmo hoje em dia. Mas todos os diretores com quem trabalhei são incríveis.
Os filmes dele dos anos 80 são completamente loucos. O seu estilo era realmente nervoso neste momento e ainda é. A ideia de Cosmópolis também foi muito original: fazer um filme que se passa inteiramente em uma limousine e que foca só em você.
A escrita era incrível. Mas eu gosto de pessoas com pensamentos originais. Good Time também é assim, considerando que não te dá qualquer indicação da maneira que tens de pensar. Claramente não há só o bom e o mau. Eu tento trabalhar com pessoas que conseguem detectar as áreas não tão brancas nem tão negras da vida. E no fim são mais inteligentes. Há muitas semelhanças, na maneira de ver a vida, entre os Safdie e Cronenberg.
Hoje em dia você quer trabalhar mais na Europa do que nos Estados Unidos?
Sim, este verão vou fazer um filme da Claire Denis na Alemanha. Acho que vou ficar por lá três meses ou algo assim. Não sei porque demorei tanto tempo para trabalhar na Europa. Aconteceu.
Atualmente está vivendo no Reino Unido ou em LA?
Na verdade, entre Londres e LA.
Pode falar sobre High Life de Claire Denis? É em inglês ou francês?
Em inglês. Se passa em uma nave espacial. É sobre um grupo de criminosos condenados à prisão perpétua e que têm a oportunidade de realizar uma missão espacial. Mas também é sobre um relacionamento, entre um pai e sua filha. Há também muitas questões psicológicas e sexuais neste filme. Todos os filmes de Claire são muito pesados e interessantes. Estou realmente ansioso pelas filmagens. Esperei três anos até que o filme pudesse ser feito.
Vai ser a primeira vez que trabalha com um diretor francês?
Acho que sim. Ia entrar em um filme do Olivier Assayas, mas a produção caiu um dia antes das filmagens. Duas vezes, na verdade. Então acho que a Claire vai ser a minha primeira diretora francesa.
O que aconteceu ao filme do Assayas? Foi cancelado?
O filme estava no meio da pré-produção. Estive ensaiando durante dois meses. E depois, um dia antes do início das filmagens, o fundo do projeto foi recusado. E depois voltei alguns meses depois e aconteceu o mesmo. Este tipo de coisas acontece muito com filmes indie. As pessoas procuram dinheiro em todo o lado que o possam fazer e certamente que nada é certo. Talvez um dia trabalhemos juntos novamente.
É louca a quantidade de projetos que são cancelados na última da hora. Também está envolvido na produção de filmes?
Gostaria de poder me envolver em projetos específicos, claro. Eu confio completamente nos diretores em um curto espaço de tempo. Há alguns anos atrás eu nunca seria capaz de me envolver completamente nas ideias de outra pessoa. Eu percebi que se deixar o diretor ser o diretor e você, ator ser apenas o ator, é estranhamente libertador. Acho que você aprende a fazer melhor as coisas. Mas estou sempre à procura de coisas que possa produzir. Apenas ainda não encontrei a coisa perfeita.
Estar envolvido na produção pode ser interessante, mas em um trabalho diferente...
Em Good Time, gostei muito da mente aberta dos produtores comigo. É bom se sentir envolvido em todo o processo além de só a fazer o seu trabalho como ator e ninguém fala contigo até à premiere. Eu vou, certamente, tentar produzir, mas no futuro.
Você é realmente novo para fazer tudo ao mesmo tempo...
Mas estou ficando velho! [Risos] Sempre penso que sou novo, mas já não sou assim tão novo.
Você começou a fazer filmes muito cedo...
Ajuda quando está fazendo um filme como Good Time, onde está filmando à noite e durante muitas horas. Uma vida não seria suficiente para fazer filmes como esse. Carregar tamanha responsabilidade é muito pesado para outras pessoas. Mas, novamente, dias atrás, assisti King Of New York. Você sente que o filme exala uma energia totalmente selvagem, mas hoje em dia Abel Ferrara começou a ser velho...
Você vai de um filme para outro? Ou precisa de pausas entre cada filme?
Quero ir de um filme para outro, mas os filmes que gosto demoram muito tempo para serem feitos. Acabo por andar de um lado para o outro da minha sala de estar, durante meses a fio e rezando para que as filmagens comecem. Terminei Good Time há muito tempo e já vai sair.
Agora que é famoso consegue ter uma vida normal?
Há alguns anos atrás era mais intenso, mas agora tenho uma vida completamente normal. Não faço muitas coisas, exceto andar na rua com meu cão e ler livros, ocasionalmente. Não faço nada! Sou realmente caseiro. Desde que encontre o meu modo de vida, eu posso fazer exatamente a mesma coisa durante semanas. Outras pessoas ficam malucas mas eu posso comer a mesma coisa, fazer a mesma coisa e ir para a cama à mesma hora durante um ano.
Esta trabalhando em outros projetos?
Vou fazer um filme com o Antonio Campos. É uma espécie de drama gótico do Sul.
Começa a filmar com Claire Denis logo depois de Cannes?
Sim, e vai demorar muito tempo. Acho que vou filmar até o outono.
Então significa que não terá férias de verão...
Viver em LA é como se estivesse sempre de férias... Já tive muito! [Risos]
Sortudo! Última pergunta: Lembra de quando decidiu ser ator? Essa decisão ficou clara nesse preciso momento?
Fiz a minha primeira audição quando tinha 16 ou algo do genero, então parte de mim queria ser ator. Gradualmente, comecei a levar isso mais a sério. Entre cada filmagem, eu pensava que ia provavelmente ser a última, então eu queria fazer o melhor. Não acho que tenha havido um dia em que pensei 'É isto que quero fazer'. Mas agora não consigo me imaginar fazendo outra coisa. Hoje, posso dizer que o tenho feito por metade da minha vida. É um pouco louco!
Sabe quantos filmes você já fez?
23 ou algo assim? De fato, não tenho ideia.
Não são muitos. Tens de fazer um pouco mais...
Sim, tenho de aumentar o número!
**tradução feita pelo RPPortugal, com adaptação do Pattinson Daily
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