Kristen Stewart conversa com o Los Angeles Time

By Kah Barros - 03:00

 

Kristen Stewart está mexendo no celular, procurando uma música que a fez chorar. É Dia dos Namorados. O sol está se pondo no Griffith Park e estamos no sofá da casa de um amigo de um amigo. Isso seria em Los Feliz, o tal amigo é um DJ e ele tem um sofá com alto-falantes instalados por dentro das almofadas. Mas não estamos naquele sofá, nem compartilhando a maconha que está crescendo no jardim de trás, porque, novamente, é dia dos namorados e, assim que terminarmos, Stewart quer voltar para a noiva, a roteirista Dylan Meyer. Elas vão ficar em casa.

“Estamos interagindo com muitas pessoas no momento, então sem outros humanos”, Stewart diz. Ela escolhe a música “When I Was a Boy”, uma linda balada da Electric Light Orchestra que Stewart manteve em seu bolso de trás caso precisasse mergulhar em um poço profundo de tristeza enquanto interpretava a princesa Diana em Spencer e precisasse de ajuda para chegar até lá. O que aconteceu, é claro, quando o cineasta Pablo Larraín pediu para que ela fizesse essa grande cena emocionante em que Diana volta para sua casa de infância, começa a chorar e Stewart estava muito exausta para pensar.

“Lembra de quando Pablo te disse que não há nada melhor do que um ator cansado?” Stewart pergunta, lembrando de uma conversa que tivemos com Larraín anteriormente. Ela não está completamente convencida disso. Mas ela manteve essa música em um lugar seguro, como onde você guardaria um extintor de incêndio, e então no dia, ela quebrou o vidro, tocou a balada e ficou devidamente destruída.

“Meu deus, é muito boa”, Stewart diz. “Você deveria tocar no carro quando for embora… a não ser que queira ouvir agora.” Consideramos, mas nos distraímos com outra música de Spencer, “Perfect Day” de Lou Reed. Estávamos falando sobre Los Angeles e pergunto o que ela acha que seria um dia perfeito para alguém visitando pela primeira vez. Sem surpresas, dado seu amor pela cidade (ela tem uma tatuagem escrita L.A. no pulso), Stewart tem uma resposta tão sensacional em suas especificidades que merece estar no site de turismo de Los Angeles.

“Ok, nós acordaríamos cedo e iríamos até o observatório [Griffith]”, Stewart começa. “É deslumbrante. Você olha para o lugar em que James Dean gravou aquela cena [em Juventude Transviada]. Olha aquele busto estranho. Então, em vez de voltarmos pelo mesmo caminho que fomos, porque odeio refazer meus passos, encontraríamos a escada secreta que te leva para uma vizinhança diferente com todas essas casas legais.

“Então, em Riverside Drive, encontraríamos o food truck e comeríamos no Ricky’s Fish Tacos. É o melhor taco, absolutamente perfeito, uma das melhores coisas que já comi na minha vida inteira. São clássicos Baja, mas eles também fazem de camarão. Compre um de cada. Não esqueça dos molhos, porque eles não colocam, o que é bom porque você consegue controlar.” (Stewart seria a primeira a te contar que ela é controladora.)

“Depois, acho que teríamos um tempo sozinhos e aproveitaríamos o ar livre”, Stewart continua. “Talvez uma caminhada por Los Feliz, colheríamos algumas nêsperas se estiver na temporada e depois assistiríamos um filme no Vista ou no Los Feliz 3.” Ela ri. “Isso tudo a cinco minutos de distância da minha casa.” O que faz sentido, ela adiciona, já que viveu a maior parte de sua vida adulta no Eastside. (“Se fica abaixo de 23°C, começo a congelar”, Stewart diz.)

Há infinitas variações desse dia perfeito que Stewart recomendaria. Pegue a Topanga Canyon até a PCH, siga em direção ao norte e pare em qualquer praia que não esteja muito lotada. “Vá para Venice, caralho”, ela se entusiasma. “Vá andar de patins. Leve um sanduíche. Observe as pessoas.” Vá até o In-N-Out e peça um hambúrguer ou um queijo quente. Coma um taco no Yuca’s em Los Feliz.

“Eu comeria tacos o dia inteiro”, Stewart diz quando aponto uma certa similaridade em suas escolhas. “Não comeria em outro lugar que não fosse uma barraca ou um food truck. Tipo, eu esperaria ficar muito tarde, te levaria até o Valley, andaria de skate por um tempo até ficar com muita fome, depois encontraria um food truck de tacos que fique aberto a noite toda. Porque tacos têm sabor diferente nessa hora… mesmo quando você não está bêbado.”

Stewart, de 31 anos, aproveitou alguns dias até tarde que, se não foram perfeitos, chegaram bem perto. Ela foi indicada ao seu primeiro Oscar, por Spencer, o que foi uma surpresa para ela, embora sua interpretação inflexível de Diana tenha sido considerada um dos melhores momentos de sua carreira distinta. O quanto foi uma surpresa? Stewart não colocou o despertador na manhã das indicações, dizendo para Meyer: “Cara. Apenas fazer o filme foi o bastante para mim.” Então, ela acordou às 7 da manhã, com a luz entrando no quarto, olhou para o celular, viu dezenas de mensagens de textos e emojis de balões, virou para Meyer e disse: “Minha nossa, cara, eu fui indicada.”

“Foi um momento tão surreal”, Stewart diz, rindo da lembrança. “Vou ser completamente honesta e dizer que foi tão legal. Não conseguia acreditar.”

A verdadeira pergunta – e não vou pedir para ela escolher – é se ela ficou mais animada com a indicação do Oscar ou com a tacada perfeita que conseguiu fazer no final de 2020 no Roosevel Golf Course no Griffith Park. Stewart ficou obcecada com golfe dois anos atrás, redescobrindo o esporte que praticava com o pai quando batiam bolas no Van Nuys Golf Course. O catalisador foi achar um grupo de amigas, “meninas golfistas” como gosta de chamá-las, que eram da mesma altura dela e tinham o mesmo nível de experiência e entusiasmo.

“Estávamos apenas tentando superar umas as outras em vez de apenas jogarmos mal”, Stewart diz, notando que o esporte é desmoralizante o suficiente sem jogar com pessoas acima do seu nível. E, ela adiciona, “andar pelo Roosevelt com seus amigos” se qualifica como outra experiência clássica de Los Angeles.

“Nós temos um relacionamento com esses pequenos veados e coiotes”, Stewart diz. Ela me passa o celular, me mostrando uma foto que ela tirou momentos depois da tacada perfeita. Ela está deitada na grama do nono buraco do Rooselvet, parecendo delirante, como se tivesse sido atingida por um raio. Para constar: Stewart usou um taco de ferro sete porque estava tarde e suas mãos estavam congelando.

“Eu não estava me sentindo forte”, ela diz, se certificando que eu note que por isso ela não estava usando um taco de ferro nove em um buraco tão curto. E, como já falamos antes, ela fica com frio facilmente.

Stewart também é propensa a momentos de autoconsciência. Ela nunca foi de seguir regras, mas quando era mais nova, tinha medo de se meter em problemas. Ela lembra de crescer em Woodland Hills (“Tenho orgulho de ser uma garota do Valley”), andar de skate até uma pequena colina com vista para a Ventura Boulevard, se esgueirar pelo quintal de outra pessoa para poder chegar na ladeira e olhar para o mundo.

“Era a minha coisa favorita porque aquela colina ficava verde na primavera por, tipo, duas semanas antes do verão do Valley deixar marrom”, Stewart diz. “Era a pior coisa mais legal que eu poderia fazer, porque eu tinha que invadir um quintal para chegar até lá. Mas nunca fui pega. Não tinha problemas em ser um pouquinho rebelde, mas a parte de ser pega sempre me preocupava.”

Stewart diz que está mais aberta a ser uma “idiota constrangedora” agora, oferecendo como exemplo como superou seu medo de dançar em público depois de filmar as cenas de dança para Spencer. Mesmo assim, quando estamos falando sobre o quanto ela gosta de dirigir por Los Angeles ouvindo música no carro – ela cresceu ouvindo estações de rádio locais antigas como K-EARTH 101 e continua uma ouvinte dedicada, mesmo que esteja “completamente abalada” que a ideia da estação sobre “antigas” foi de Motown para Modern English – ela se recusa a cantar se outra pessoa estiver no carro. E nem fale sobre karaokê.

“Mas se alguém me pedisse para fazer um musical, eu diria: “Foda-se, sim’”, diz Stewart. “Porque iriam me ensinar e eu acabaria tendo uma experiência completamente fora da minha zona de conforto, uma que iria me mudar. Isso é atraente demais.”

O que me faz pensar sobre o casamento dela – ou, de forma mais específica, a festa de casamento. Ela e Meyer noivaram no ano passado e Stewart quer se casar antes tarde do que nunca. A cerimônia em si não significa muito para ela. É mais sobre a festa depois, a reunião de seus amigos e parentes, um grande grupo de pessoas que nunca ficariam juntos no mesmo lugar se fosse de outra forma.

“Eu acho que quero isso”, Stewart diz, dizendo cada palavra nessa frase com cuidado. “Mas quando realmente penso, fico tipo: “Eu quero isso?’”

“Você teria que dançar em público”, digo. “Não tem como evitar.”

“Definitivamente… teríamos que dançar na festa”, Stewart diz. “Teria que caçoar um pouco. Pensaríamos, tipo: “É absurdo que estamos fazendo isso.” Houve uma época na minha vida em que eu dizia: “Não, nunca vou me casar. Me casar, tipo, colocar um vestido e caminhar até o altar. E, por acaso, não vou fazer isso. Não é esse tipo de casamento que vou ter. O fato de que eu já disse: “Hey, vamos nos casar” e termos anéis e tal… já está feito.”

Stewart se aproxima. Está escuro lá fora há um tempo e está na hora de voltar para casa para nossos amores. Mas ela ainda está organizando os pensamentos sobre o casamento, pensando se está sendo muito impulsiva.

“Acontece que, eu sempre acabo com a graça”, Stewart diz. “Tenho essas grandes ideias, tipo quando compro um presente lindo para alguém, fico orgulhosa e acho que vão amar. Mas em vez de embrulhar, colocar o lado e entregar no momento certo, digo: “Minha nossa, comprei esse negócio e sei que ainda falta uma semana para o seu aniversário, mas foda-se, toma porque eu amei e eu te amo.” Se eu embrulhasse e entregasse no dia certo, o impacto seria maior.

Então, provavelmente vou fazer isso no meu casamento também.” Ela dá uma gargalhada com o pensamento. “Provavelmente vou olhar para trás e ter que casar novamente… o que não surpreenderia absolutamente ninguém que me conhece.”




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