Kristen Stewart tinha apenas sete anos quando as notícias de que Diana, Princesa de Gales, havia morrido em um acidente de carro. A atriz nascida em Los Angeles tem algo mais do que uma memória sensorial sobre os dias de luto global que seguiram.
“Eu lembro de todas as flores na frente do Buckingham Palace e sabia que algo terrível havia acontecido”, Stewart recorda. “Eu conseguia sentir a emoção. Há certos eventos na história que se destacam para você quando criança. Você é uma bolha. Eu não tinha idade o bastante para lembrar como me senti. Apenas lembro de estar acontecendo. E agora é difícil filtrar meu relacionamento com ela como figura de qualquer perspectiva porque estou tão dentro.”
Ela sorri por baixo do cabelo loiro e de um boné de baseball. “E eu me tornei tão obcecada por ela. Acho que ela era incrível, era tão legal. Ela fez o mundo ser muito especial. Quero estar próxima disso.”
Em uma era onde biografias são cada vez mais caracterizadas por reviravoltas suculentas, mas longe de seus temas – o Johnny Cash de Joaquin Phoenix e a Elizabeth Taylor de Lindsay Lohan – a interpretação surpreendente de Stewart como Princesa Diana em Spencer é uma anomalia bem-vinda. Uma imagem extraordinária que captura a voz, o andar, e cada pequena maneira (embora paradoxalmente teatral) de seu alvo, é uma performance fantástica, uma que atinge seu objetivo e coloca Stewart como a favorita na corrida de Melhor Atriz no próximo Oscar.
Uma sequência surpreendente mostra Stewart correndo – assim como Lady Di teria feito – usando um dos figurinos mais icônicos em sucessão.
“Foi extremamente físico”, diz Stewart. “Foi como praticar um esporte. É engraçado, sabe. Você não pensa que fingir andar e falar como alguém seria tão muscular, mas não consigo soar como ela sem literalmente trabalhar no meu rosto por meses. E há algo sobre o filme. Uma vez que encontra seu ritmo, nunca para. Se passa em três dias e tem um pouco mais de uma hora e meia, mas filmamos por três meses e sustentar aquilo foi honestamente exaustivo – de uma boa forma. É bom chegar em casa e apenas desmoronar.”
Esta jornalista lembra de entrevistar uma assustada Naomi Watts em 2013, após a atriz, que estava em fogo cruzado por ter interpretado Diana no filme homônimo de Oliver Hirschbiegel, saiu de uma entrevista de alta pressão com Simon Mayo da BBC Radio 5 Live. Mais recentemente, os leitores do Daily Mail ficaram horrorizados ao assistir as cenas de Emma Corrin em The Crown, com a seguinte manchete: “Especialistas Reais criticam as cenas de bulimia em The Crown por serem ‘muito gráficas’ após espectadores a assistirem se empanturrando de sobremesas antes de forçar-se a vomitar em um dos toaletes do palácio.”
“É claro, eu fiquei petrificada que as pessoas não fossem responder bem”, diz Stewart quando nos encontramos horas antes da estreia do filme em Londres. “Mas assim que eu assisti ao filme, e até mesmo antes – assim que começamos a fazer o filme juntos – eu sabia que tínhamos intenções tão puras que mesmo se perdêssemos o ponto completamente – um que não existia – mesmo se déssemos com a cara no chão, valia a pena tentar. Nem tudo que você fizer na vida vai ser um sucesso. Eu entrei nesse filme completamente preparada para falhar. Mas, sabe, Diana não era permitida errar. Ela não podia fazer escolhas. Eu li o roteiro e pensei no quanto tenho sorte. Assumi a liderança dela.”
Spencer, o nono filme do cineasta chileno Pablo Larraín, que anteriormente dirigiu Natalie Portman para uma indicação ao Oscar por sua interpretação de Jacqueline Kennedy em Jackie, de 2017, é desafiadoramente impressionista. Ambientado em um péssimo feriado de Natal com a família Real britânica na casa de Sandringham da Rainha, Spencer coloca Stewart como a homônima princesa que, em 1991, estava lutando contra um distúrbio alimentar, vigilância constante, a infidelidade de seu marido e o dever.
Stewart se esforçou ao máximo em seus preparativos para o papel – incluindo mais de algumas fantasias loucas – mesmo que os aspectos práticos a impedissem de crescer seu cabelo como o penteado icônico de Lady Di.
“Era muita coisa”, diz Stewart. “Cada parte. Eu não sou uma pessoa esportiva. Desde a primeira vez que coloquei a peruca, realmente queria que fosse meu próprio cabelo, mas não podia. Era uma coisa lógica. Eu falei com a mulher que criou a peruca porque queria ter certeza de que poderia passar minhas mãos por ela e molhá-la. Ela disse: “Você literalmente vai estar no cabelo e maquiagem três horas por dia. E vamos filmar por oito.” Seria um trabalho tão difícil de manter.”
“Sinto que ela já tinha tantas camadas. Tantas facetas. Eu sabia que éramos permitidos a desconstrui-la. A estética dela é tão icônica, mas Pablo me deu um conselho muito bom no começo, quando era um pouco intimidante: “Se você pegar um ou dois detalhes, pegar as poucas coisas que se identifica – coisas específicas que você sente que realmente a definem – então as outras irão preencher as lacunas.” Enquanto eu fosse presente e honesta, as pessoas trariam suas próprias memórias dela e suas próprias projeções. Meu trabalho era permitir o relacionamento das pessoas com a história.”
Stewart nasceu em Los Angeles, filha de John Stewart, que trabalhou na Fox TV, e Jules Mann-Stewart, uma supervisora de roteiros e diretora australiana. Quando tinha apenas oito anos, um agente assinou com ela após assisti-la cantar em uma peça de escola. Aos 12 anos, ela provou ser uma parceira de tela capaz para Jodie Foster em O Quarto do Pânico de David Fincher. Aos 17, ela se tornou uma sensação global do dia para a noite como o centro de Crepúsculo. Ela tem sido, em comum com a princesa que acabou de interpretar, favorita dos tabloides e dos paparazzi desde então.
Stewart transformou sua fama em uma fascinante carreira internacional. Curiosamente, ela e Robert Pattinson, seu parceiro de cena em Crepúsculo, estão igualmente determinados a explorar um trabalho interessante com diretores desafiadores. Nenhum dos dois caiu na opção fácil de infinitos sucessos de bilheteria (embora tenha havido alguns aqui e ali). Ela se tornou presença regular em Cannes. Sua performance arrepiante em Personal Shopper, filme de 2016 de Olivier Assayas, entusiasmou o evento e, sem dúvidas, ajudou Assayas a ganhar o prêmio de Melhor Diretor. Em 2014, ela ganhou um César Award – geralmente descrito com o Oscar francês – por sua performance em Acima das Nuvens, também de Assayas, e permanece como a única atriz americana a conseguir um prêmio nessa cerimônia.
A experiência europeia a ajudou bastante a escapar da sombra de Crepúsculo. Os críticos franceses foram mais rápidos em aceitá-la como uma artista séria do que os americanos. Poucos podem contestar que ela está entre as jovens atrizes mais respeitadas do mundo. A indicação ao Oscar já é quase certeza.
“Eu amo Hollywood”, ela diz. “Amo fazer filmes na América. É inegavelmente uma indústria – a indústria cinematográfica de Hollywood. Entende? As pessoas querem fazer dinheiro com isso, é o combustível do motor. Mas há artistas que alcançam o topo. Eles possuem perspectivas específicas que transcendem e são bonitas e verdadeiras. Seu catalisador é mais puro do que querer atenção, fama ou dinheiro. Mas principalmente é brilho e glamour.”
É claro, há um pouco disso na Europa. Mas as atitudes permanecem diferentes.
“Há uma reverência pelos diretores”, ela diz. “Eu amo a romantização. Bons filmes são feitos por diretores únicos. É claro, é uma experiência colaborativa, mas alguém precisa trilhar esse caminho e permitir que todos passem por ele. Acho que quando algo é bom, é porque vem da perspectiva de uma pessoa.”
Ela continua a atrair a atenção dos melhores diretores. Em seguida, ela aparece ao lado de Viggo Mortensen e Léa Seydoux em Crimes of the Future, de David Cronenberg. Cronenberg anteriormente teve Pattinson como muso. Tudo se encaixa.
“Eu amo o cinema europeu. Amo os dois, o cinema americano independente, também. Eu amo filmes dos anos 70. Realmente me identifico com essa atitude apaixonada e firme: “Faremos qualquer coisa pelo nosso filme”. Só é visto em uma luz diferente por aqui. Mas também, alhos e bugalhos. Entende?”