Dizer que ela ficou surpresa quando Pablo Larraín ligou para pedir que interpretasse Diana Spencer dificilmente descreve a dimensão de seu espanto. Aos 31 anos, e com mais de 20 de experiência por trás, Kristen Stewart nunca teve tamanha vertigem.
“Antes de aceitar um papel, um ator precisa avaliar suas próprias aptidões e assumir a responsabilidade pelo que diz que pode fazer”, ela confessou em uma entrevista por videoconferência com a La Presse. “Mergulhar no desconhecido e tentar domar o caos como se apresenta obviamente é parte desse trabalho, mas você ainda precisa confiar em suas habilidades. Nesse caso, eu não fazia ideia. Eu também disse para mim mesma nesse ponto da minha carreira e minha vida que, como artista, preciso ir em direção a coisas assustadoras. Caso contrário, devo parar tudo!”
Uma estrela planetária desde o primeiro filme da Saga Crepúsculo, a atriz também fez questão de emprestar seu talento para cineastas de todos os cantos, apenas para transformar uma imagem que pode ser um pouco suave demais para seu gosto. Walter Salles a escolheu para Na Estrada. Ela recentemente contou ao The Sunday Times que os dois filmes que fez com Olivier Assayas, Acima das Nuvens e Personal Shopper, estão entre os poucos que ela realmente se orgulhosa. Benedict Andrews a escolheu para ser Jean Seberg em Seberg. Dito isso, o papel de Diana em Spencer para ela foi igualmente ambicioso, do tipo que nunca antes se apresentara em seu caminho.
“Eu estava completamente pronta para navegar e me envolver na personagem”, ela explica. “Queria aprender tudo sobre Diana para esquecer tudo e o instinto se instalar através da alma da personagem, seu jeito de se mover e de se expressar. Mesmo que Spencer não seja uma biografia clássica, foi necessário manter esse fundo de verdade.”
Mesmo antes da primeira imagem do filme, nós fomos avisados. Spencer é uma “fábula inspirada em uma tragédia real”. O ambiente em que o enredo se passa é real, mas Pablo Larraín, a quem atribuímos No, Neruda e Jackie, todavia oferece uma versão fictícia, algumas vezes até beirando o surrealismo. O roteiro, escrito por Steven Knight (Pegando Fogo, Allied), foca no último Natal de Diana com a Família Real na casa de Sandringham em 1991, antes do divórcio com o Príncipe Charles.
Kristen Stewart desperta uma experiência que é “forte e estranha” e elogia a qualidade de um trabalho onde “ninguém afirma saber de nada”. Mesmo que a história seja abalada e salpicada com imagens mentais evocativas (Diana até mesmo tem visões de Anne Boleyn, esposa de Henry VII que foi decapitada), os artistas ainda seguiram certas regras.
“Sempre que algo parecia errado, nós desistíamos”, explica a atriz. “Por exemplo, queriam que eu fumasse um cigarro em uma cena, mas no final não seguimos com a ideia porque Diana odiava fumaça. Por outro lado, esse episódio de sua vida em que o filme ecoa foi submetido a tantas interpretações contraditórias que gostamos de brincar nesse mistério. Todos queriam conhecê-la, mas, ironicamente e tristemente, ninguém pode alegar que realmente a conhecia.”
Quando a Princesa de Gales morreu tragicamente em um acidente no túnel abaixo da Alma Bridge em Paris em 1997, Kristen Stewart era uma menininha. Ela cresceu mantendo a imagem de uma mulher simples, honesta e de mente aberta, na qual havia um desconforto por não conseguir enganar ou esconder nada. Como um fio em constante tensão.
“Também é completamente paradoxal notar o desconforto de uma mulher que todavia possuía uma facilidade excepcional para se aproximar das pessoas, para que elas se sentissem bem. Era inato dela, como um talento natural.”
Desde a estreia de Spencer no Festival de Veneza, vários observadores disseram que Kristen Stewart oferece uma composição digna de indicação ao Oscar. Nos olhos da atriz que começou a carreira aos 9 anos de idade, é difícil determinar se esse filme marcará uma reviravolta, mas é certeza de que o papel é um dos mais importantes que ela já interpretou. Crescendo em sets de filmes graças aos pais, ambos partes da equipe, Kristen Stewart não consegue se ver em outro lugar.
“Acredito que fui contaminada biologicamente!” Ela diz. “Quando eu era pequena, insisti para minha mãe me deixar fazer testes. Eu tinha muita vergonha e encontrei um jeito de me expressar. Se não tivesse funcionado como atriz, provavelmente estaria em outra profissão no cinema, talvez direção artística. Em todo caso, tentaria chegar o mais próximo possível de sets de filmagens, isso é certeza.”
Agora aos trinta anos e tendo acesso à papéis mais complexos, a atriz é relutante em falar sobre sua nova maturidade, mas ela aprecia a variedade de personagens que tem acesso.
“Se eu pudesse sair e me olhar por fora, não tenho dúvidas de que veria uma evolução que teria orgulho. Admito que, no momento, gosto de envelhecer. É um ótimo sentimento, como se meu coração e minha mente finalmente se encontrassem. Quanto ao Oscar, não cabe a mim decidir…”
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