A entrevista contém spoiler!
Parabéns pelo filme. Como você está se sentindo com todo o amor por sua performance? Ou você está tentando não prestar atenção?
Não, é muito legal. Não estou tipo: “Vou ignorar as lindas reações das pessoas para algo que trabalhei muito para fazer lindamente.” Digo, não, estou muito animada. Por isso que fazemos filmes, queria grandes conversas sobre eles, então…
Antes de falarmos sobre Spencer, você deu uma entrevista recentemente que está estourando porque você disse que só fez cinco filmes bons…
[Stewart dá uma olhada semelhante a um revirar de olhos, mas não exatamente assim]
Alguém já te perguntou sobre isso hoje?
Bom, está estourando no Twitter. O que você acha? [Risos]
Claro, mas sinto que você fez sete ou nove filmes realmente bons? Você não acha que está sendo muito dura consigo mesma?
Isso não foi uma autocrítica.
Ok.
Eu tenho reverência por filmes. Acho que quando algo é bom, é um milagre e por isso somos incansáveis… Nunca vou parar de tentar ser tão sortuda porque precisa de muitas pessoas e muitos desejos díspares para se unirem sob o guarda-chuva de uma perspectiva – que é o diretor – e isso é muito raro. Eu não estava dizendo tipo: “Acho que só fiz cinco filmes bons, mesmo que eu tenha feito 50.” [Risos] Entende? Eu sei que totalmente não é o que eu estava dizendo. Estávamos falando sobre filmes e o que pretendo fazer, a ambição e tudo isso. Não era algo que pensei que se tornaria um click-bait. Mas a maioria das pessoas não são cinéfilas. Acho que as únicas que realmente entenderiam o que eu estava dizendo, seriam as que concordam que um ótimo filme é intocável e singular.
Entendo.
Quantos desses filmes existem? Eu diria que em um ano, não são muitos. Então o fato de que estou em cinco é legal pra caralho.
E você está em um nesse ano, o que também é legal.
Sim. Obrigada.
Então, o Pablo te liga ou manda um email, qualquer coisa. Qual foi a sua reação inicial quando ele propôs o projeto?
É um assunto bizarro de apresentar. Eu falei com ele antes de ler o roteiro. Algumas vezes depende de como as pessoas querem se aproximar de você. Às vezes dizem: “Leia isso e então podemos conversar.” Ele disse: “Quero conversar com você primeiro antes que você leia…” Minhas agentes nem me contaram qual era a ideia. Só disseram: “Pablo Larraín quer falar com você.” E eu disse: “É claro.” Então, ele me apresentou essa paisagem abstrata, que se passava em três dias, de um jeito muito preciso, mas que também tem uma área cinzenta em termos do que sabemos sobre ela de forma realista. E ele disse: “Acho que você deveria aceitar.” E eu disse: “Ok.” Eu fiquei muito atraída pela ideia de não fazer uma biografia. Biografias ganharam uma má reputação ultimamente provavelmente porque as tentativas de mais sucesso em cobrir a vida nos filmes geralmente não é… qual a palavra? Você sabe.
Factual ou historicamente fiel?
Não fiel, completo. Você geralmente não tenta fazer 15 anos da vida de alguém ou a vida completa. Você acaba fazendo um filme em que você joga uma pedra pela água e a pedra sai seca. Nunca cai em nada. Você nunca termina conhecendo alguém ou sentindo alguma emoção real. São só pedaços da vida dizendo: “Olha, nós mostramos tudo o que fizeram.” Tipo: “Ok, mas já sabemos de tudo.” Então, quando ele disse isso, eu pensei: “Mas o problema com ela é que não a conhecemos. Como saberemos como eram essas conversas atrás das portas fechadas?” Acho que é um pouco fácil de esquecer ao fazer todas essas entrevistas, é que ela escolheu se envolver publicamente nos últimos anos de sua vida e realmente tentou bastante se portar de forma bem articulada. Então, qualquer pergunta tipo: “Como você traça um material que você não pode confirmar? Como você submete uma pessoa, uma figura histórica, alguém que já parece ser tão explorada para uma atenção não solicitada?” Acho que quando você questiona essas histórias que você tem o direito ou permissão de contar, é tipo: “Só eu posso?” É como a pessoa dirigindo o filme, ela precisa ser uma mulher branca inglesa da aristocracia? Tipo: “Não, ele é um homem do Chile.” Entende?
Sim.
Algumas das partes mais interessantes de fazer algo é sempre a perspectiva de alguém diferente e pensar: “Nossa, essa pessoa me trouxe um processo de pensamento que eu nunca teria tido sem ela e eu não poderia ser mais diferente dessa pessoa.” Então, por favor. Acho que se você olha para a Diana como figura, o jeito que ela funcionava no mundo, o jeito que ela se aproximava, como ela usava esse desejo palpável fisicamente, você pode ver que ela estava implorando para ser tocada e tocar outras pessoas. Para mim, parecia um chamado para a luta, quase como: “É, vamos continuar essa conversa.” Então, eu definitivamente fiquei muito emocionada com a ideia de me aproximar dessa mulher.
Pablo disse que a última coisa que ele quer é que um ator imite uma figura pública e, obviamente, você não faz isso com sua performance. Mas houve alguma entrevista em particular ou algo que você leu que ficou com você enquanto você estava fazendo o filme?
Sim. Muitas coisas, eu mergulhei fundo por alguns meses e consumi todos os materiais. Inicialmente, Pablo disse para não me pressionar tanto em aprender os detalhes porque não eram importantes. Mas eu queria aprender para conseguir acreditar. Queria saber tudo antes de esquecer e ter certeza de que não estávamos rudemente errados sobre qualquer coisa. Eu meio que avancei no tempo e pensei: “E se eu estiver sentada para uma entrevista e alguém perguntar: “Você não sabia sobre essa coisa incrivelmente importante?’” Você vai pensar: “Meu Deus. Não, eu não sabia.” Eu preciso estar em dia com isso. Preciso estar preparada.
Isso é injusto, no entanto. Ninguém deveria ter um diploma sobre quem estão interpretando para dar entrevistas. Isso é ridículo.
Sim. Mas eu pensei sobre isso porque essa conversa é importante e porque o filme é sobre tentar transmitir verdade para o mundo através das lentes da mídia. É mais ou menos sobre o que é o filme. De qualquer forma, não foi algo que estudei muito, mas eu queria seguir essa saga como uma pessoa curiosa. Eu sabia que se assistisse The Crown e cada documentário, lesse a biografia de sua empregada, a biografia de seu segurança que a amava e adorava, eu sabia que iria incorporar esses pequenos botões de emoção e gatilhos na minha experiência assim que estivéssemos no set. Eu não precisei ficar pela primeira vez: “Oh, como seria se alguém analisasse os cabelos no seu travesseiro?” Entende?
Com certeza.
Eu pensei: “Já estou com raiva disso.”
É diferente.
Entende? A empregada entra sem bater e eu fico tipo: “Dá o fora!” Estou com tanta raiva por ela. Então, a pesquisa não foi necessariamente porque estávamos tentando ser corretos, mas porque eu estava tentando conhecê-la, me aproximar o máximo possível emocionalmente.
Uma coisa que amo no filme é como foca em Diana como mãe e o quanto seus filhos eram importantes para ela. Pablo diz que sente que o filme é sobe maternidade. Quando você leu o roteiro, isso apareceu para você? Ou é apenas a perspectiva do Pablo?
Acho que ao passar por todas essas coisas com ela, é a versão mais incorporada, incondicional, absolutamente pura, verdadeira e confiante dela e tudo mais parece tênue, instável e meio desesperado, mas não de um jeito ruim. Pode ser uma coisa muito forte de ver em alguém como sendo meio honesto em uma posição de vulnerabilidade, como tipo: “Eu tenho necessidades e é muito claro, estou estendendo a mão.” Então isso sempre foi muito presente. Outra coisa que estava em forte contraste era que sempre que seus filhos estavam por perto, era como se isso não existisse. Digo, ela tinha uma energia bastante intocável e nas cenas no roteiro com os meninos, parecia que não estávamos contando uma história sobre a Princesa Diana. Era de repente um filme sobre uma mulher que podia ser qualquer pessoa. É um aspecto muito nobre dela. Por ela ser ironicamente esse tipo de figura singular que está sempre procurando mais contato humano do que é possível ter, a parte mais comovente do filme não é difícil de se relacionar. A parte mais comovente do filme é que ela é normal e tem essa coisa realmente desarmante e muito relacionável que Steven Knight fez de forma muito bonita. Aquelas cenas são muito tocantes no roteiro e digo que por causa dos meninos e do jeito que elas foram filmadas, são mais tocantes ainda na realidade.
Oh.
Foram as únicas cenas improvisadas.
Sério?
Sim. Pablo foi tão inteligente. Ele queria que as crianças se sentissem felizes e confortáveis como se estivessem se divertindo e jogando um jogo. As crianças são muito envolvidas na cultura britânica, sabem mais sobre a família Real do que eu. Então, eles começaram a improvisar coisas do tipo: “Você realmente quer ser rei?” E eu fiquei tipo: “Você… Como? Vocês estão certos demais.” [Risos] Eles arrasaram e era algo que o Pablo queria cultivar e preservar, e ele fez de uma maneira muito bonita. Ele tem filhos. Sou a mais nova da minha família. Obviamente, sou filha. Tenho mãe, então não é como se eu não tivesse ideia do que se tratava. Mas ele ajudou a aliviar o estresse e tornou divertido. Ele foi ótimo porque contratou crianças que eram divertidas, estavam dispostas e eram verdadeiras. Nós realmente queríamos amar uns aos outros e foi fácil quando chegamos lá. Foi tipo: “Oh, nós conseguimos.” Eles me carregaram, foram incríveis. Tive muita sorte que o único elemento curinga que eu não podia controlar acabou servindo de apoio.
No final do filme, há uma cena inesperadamente eufórica focada em uma música pop familiar dos anos 80. Pablo diz que levou um tempo para escolher qual música seria. Quando você recebeu o roteiro, claramente não dizia a música, mas você sentiu que teria esse final edificante?
Sim, está no roteiro. A música não é especificada, mas diz: “Harry aumenta o rádio.” Entende? Suas mãos explodem por cima de sua cabeça e parece que ele vai… Sabe? No final do roteiro, havia essa elevação, absolutamente. Apesar de que, quando ouvi a música pela primeira vez, fiquei arrasada.
Por quê?
Quero dizer, amo que o filme tem esse final porque termina a história sem contar o que aconteceu. Assim que você escuta Mike & the Mechanics cantarem: “Tudo o que preciso é de um milagre”, você pensa: “Oh, saia do carro.” Você pensa: “É verdade” e você não vai conseguir. E, para mim, depois de ver o filme três vezes, eu não consigo respirar no final.
Oh.
Eu não consigo acreditar no que aconteceu com ela, mas é momentaneamente edificante.
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