Kristen Stewart, uma voz para toda uma geração

By Kah Barros - 13:00


Kristen Stewart diz que, quando leu o roteiro de Seberg, sentiu que era uma história que precisava ser contada, mas a atriz não vai mais longe, nem se aprofunda nos paralelos óbvios entre as duas artistas, ela e Jean Seberg, americanas que encontraram na França diretores que as entendiam e um tipo de cinema acomodava suas vozes, e as duas mulheres são ultra vigiadas: Stewart pela mídia e redes sociais, Seberg pelo FBI. É sobre isso que o filme trata, como a agência que ainda estava na direção de Hoover decidiu destruir a protagonista de Breathless, quando ela começou a financiar o serviço social para crianças afro-americanas, primeiro, e os Panteras Negras, mais tarde. “Não acho que Seberg tentou quebrar as regras dos anos sessenta,” diz a atriz de Sils Maria, Personal Shopper e, sim, Crepúsculo, para um grupo de jornalistas. “Ela simplesmente queria encontrar seu lugar no mundo e, na época, em sua motivação para ser artista, encontrou na França uma paisagem existencialista na qual explorou no cinema. Hoje, vivemos outras culturas, especialmente em termos de juventude e das mulheres.”
Em Seberg, o diretor Benedict Andrews mostra a espionagem que a atriz foi submetida no final dos anos 60 quando se envolveu na luta anti racista da população afro americana. Ela também teve um affair com o líder Hakim Jamal, primo de Malcom X, e seu talão de cheques sempre disponível para os Panteras Negras chamou a atenção do FBI, que fez o possível para arruinar sua vida profissional e pessoal, que naquela época estava casada com o escrito Romain Gary. ”Eu não me sinto atacada de maneira específica, como aconteceu com ela,” diz a atriz, ”mas de maneira mais geral, me sinto atacada, como muitos americanos, pelo meu governo.” Ela continua: ”Os Estados Unidos estão em guerra consigo mesmos. Às vezes, é difícil para mim reconhecer meu país no panorama atual. No entanto, estou com esperanças, as eleições estão chegando. Quando as pessoas estão infelizes, elas se desconectam do resto. É tempo de nos conectarmos novamente.”
Interpretar Jean Seberg pode até ter sido terapêutico para Stewart: uma atriz pode se sentir reconfortada ao escutar seus medos na personagem que interpreta sendo outra atriz. ”As coisas se tornam interessante na arte quando você sente medo. É o primeiro passo para qualquer conversa filosófica e para que se sinta comprometido com o que faz. Também reconheço que o dom de poder compartilhar um trabalho com o público é maravilhoso. Se você se trancar, se proteger, criará algo chato e sem interesse, que não valerá a pena. Minha sorte é que separo muito bem meu trabalho da minha vida, as tenho claramente compartimentadas e não preciso de uma vida alternativa no cinema para completar a minha. Não confundo. Porém, insisto: quando algo te assusta, geralmente vale a pena.” Stewart usa uma variedade de correntes em volta do pescoço, incluindo um cadeado. Sua sombra é uma mancha preta retangular que destaca os olhos escaldantes. Os diretores que trabalharam com ela falam de alguém doce, tímida, com muito critério e uma cabeça muito bem mobiliada. Nas entrevistas, prefere as respostas longas, mesmo que durante seu discurso ela pare porque hesita e se corrige.
Kristen Stewart gosta de trabalhar em histórias que acha necessárias para os espectadores. ”Esta era. Não há muito o que dizer de maneira muito específica o que Seberg viveu, mas como chegamos através dela a um tempo e a um lugar.” Mas a americana foi uma das pioneiras em usar sua posição de estrela como porta-voz de causas sociais, algo que hoje se tornou comum. “E parece bom que todos usemos os alto-falantes, as plataformas ao nosso redor para deixar nossas opiniões claras,” diz Stewart. “Não me refiro apenas a atores e atrizes famosos, mas a todos. É para isso que as redes sociais servem, ou deveriam servir, para ser um por todos. Na verdade, não sei o que faço falando sobre essas redes, se não tenho. Reconheço que estou em um lugar privilegiado e me beneficio. Nem preciso levantar a voz: vocês jornalistas me fazem as perguntas. Bem, não sou especial e acho que a conversa foi aberta com as redes sociais para todo o mundo.”
Quando a perguntam sobre se sentir vigiada no mundo atual, Stewart brinca, de forma imprudente, sobre as intenções dos produtores do filme, a Amazon Studios. Ela fica sério e responde: “Nem toda a sociedade é um conjunto fechado. E é por isso que você não precisa ficar com raiva quando alguém pensa o contrário de você. [Stewart gesticula como se estivesse gritando] Às vezes, você está projetando suas próprias inseguranças em outras pessoas.”
A estreia seguinte de Stewart será As Panteras, escrita e dirigida por Elizabeth Banks. “Como novas Panteras, não somos super-heroínas, mas fazemos coisas que o resto das mulheres poderiam fazer. E só alcançamos sucesso se permanecermos juntas,” diz Stewart. “Poucos filmes tiveram um coração e uma perspectiva tão femininas. Nós não reproduzimos comportamentos masculinos daqueles agressivos diante da câmera. Tudo neste filme é mais lógico, afetuoso, feminino. Como a nova irmandade, cuidamos umas das outras.” E antes de terminar, ela aponta: “E muito engraçado, porque Banks é muito engraçada. Não é um filme de fúria e brigas, porque a sociedade de hoje não deve se basear em fúria e brigas, mas em reuniões e conversas. É claro que há ação, mas com significado.”

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