Vanity Fair: Interpretar a princesa Diana foi o conto de fadas de Kristen Stewart

By Kah Barros - 16:02

 

A atriz Kristen Stewart e o diretor Pablo Larraín conversaram com a Vanity Fair sobre o filme Spencer. Confira abaixo a matéria completa:


Em janeiro, Kristen Stewart estava com o cabelo e maquiagem da Princesa Diana quando paparazzi invadiram um castelo alemão onde ela e a equipe estavam filmando Spencer.

Stewart, atriz há 22 anos e estrela do cinema há 13, está acostumada com um círculo de fotógrafos seguindo cada passo seu – e sabia que interpretar um ícone amado só intensificaria o interesse.

“Você pega o elemento de que sou um atriz famosa, mistura com o símbolo monumental que é a Diana e é tipo: “Cara, eles vão ficar loucos”, Stewart me conta durante uma recente entrevista pelo Zoom. “E ficaram.”

Mas havia algo assustadoramente similar no momento – além de uma atriz caçada pela imprensa interpretando uma princesa caçada pela imprensa. Os fotógrafos estavam usando câmeras com lentes extensas para capturar fotos granuladas de Stewart como Diana através de uma janela do hotel Schloss Friedrichshof. Spencer – um psicodrama luxuoso visto pelos olhos de Diana durante um Natal em Sandringham – inclui uma cena em que fotógrafos tirando fotos com lentes extensas através de janelas se tornam um problema tão grande que as cortinas de Diana são costuradas pelos funcionários da rainha.

Em Spencer, dirigido por Pablo Larraín (Jackie) e escrito por Steven Knight, indicado ao Oscar por Coisas Belas e Sujas, as cortinas costuradas são interpretadas como terror – outra medida extrema que a família real e funcionários tomam para isolar Diana. Mas no set de Spencer, costurar as cortinas de repente não parecia uma ideia tão terrível.

Stewart vem de uma família de cineastas – sua mãe é uma supervisora de roteiros, seu pai é contrarregras e seu irmão monta equipamentos para câmeras – e para ela, sets de filmagens são íntimos e sagrados. “Não ligo que me sigam quando vou ao Starbucks e me observem comprar café. Tudo bem, tirem fotos. Fiz um filme, quero que assistam”, diz Stewart. “Mas na nossa arte, fazendo um filme e estando atrás de portas fechadas… não era sobre mim.”

Caracterizada como sua personagem naquele dia (e provavelmente despreparada para costurar qualquer coisa), a atriz mediu sua energia de acordo.

“Saí completamente do personagem e me senti totalmente protetora com a Diana naquele momento. Pensei: “Deem o fora!’”, diz Stewart. “Eu desenvolvi um relacionamento verdadeiramente protetor com essa pessoa que obviamente nunca conheci.” Stewart está acostumada a ser o assunto de escrutínio público. Mas durante sua pesquisa extensiva sobre Diana, ela ficou transtornada com o escrutínio privado que a princesa estava submetida pelos funcionários em sua própria casa.

“As pessoas analisavam os cabelos em seu travesseiro – olhavam a cor e pensavam: “Oh, ela estava sozinha na noite passada?” E então falavam desses detalhes com outros funcionários como se fosse da conta deles.”

“Também é uma coisa estranha de se falar porque estou sentada aqui consumindo todos esses detalhes e grata que eles existem”, diz Stewart. Essas memórias difíceis – algumas provavelmente vendidas para imprensa por funcionários – a ajudaram a explorar o estado emocional de Diana. “Na verdade, como uma espécie de ataque à sua personalidade, essas histórias só revelam a situação de merda em que ela estava vivendo. Em retrospecto, eu penso: “Legal, contem suas histórias sobre a Diana. Vocês só estão corroborando com sua bondade.”

Spencer é mais experimental e aventureiro do que outras biografias sobre a Princesa Diana e se apoia diretamente na performance de Stewart. Lançado seis anos depois que Stewart ganhou o César (a versão francesa do Oscar) por Acima das Nuvens, Spencer marca a primeira tentativa da atriz de competição por prêmios americanos. Ela interpreta uma pessoa real – imã para votantes da Academia – e se esforça para fazer a transformação mais ambiciosa de sua carreira, trocando suas maneiras californianas pelo sotaque e postura elegante de Diana. Mas não foi a fisicalidade do papel que foi difícil.

“Todos amam falar sobre como me preparei para esse papel e qual tipo de pesquisa ou truque de mágica eu fiz para conseguir acertar no sotaque”, diz Stewart, que trabalhou com William Conacher, o mesmo professor de dialeto que ajudou Emma Corrin a se tornar Diana para The Crown. “Mas honestamente, se você tem tempo o bastante para acertar um sotaque, é muito técnico. O que realmente importa é pesquisar e incorporar reações realmente emocionais em coisas que existem na vida real, se você está fazendo uma história sobre uma pessoa que realmente viveu.”

Spencer retrata Diana à beira de um colapso durante seu último Natal antes de separar-se de Charles – uma panela de pressão de 72 horas de tensão familiar e rituais antiquados preservados da era da Rainha Victoria. Desde o momento que os Windsors chegam em Sandringham – em ordem precisa, dependendo de seu posto – eles são jogados em uma situação que é parte Downtown Abbey, parte Black Mirror. Os hóspedes estão sempre vestindo roupas novas e formais para uma procissão interminável de refeições ricas – um pesadelo para Diana que lutava contra bulimia, problemas emocionais e automutilação nos anos 90. A Diana de Spencer, manipulada e vigiada pelos funcionários da rainha 24/7, oscila na beira da loucura e rebelião.

Para escrever o roteiro, Knight falou com antigos funcionários – “pessoas que serviram e observaram” – da propriedade de 20.000 acres da rainha. Apesar de Knight se recusar a discutir as especificidades dessas conversas, ele insiste que mesmo os elementos mais bizarros de seu roteiros estão impregnados com fatos. Por exemplo, em um detalhe incorporado no filme, ao chegarem em Sandringham para o Natal, a Rainha Elizabeth insiste que cada visitante seja pesado em balanças antigas – seus pesos anotados e comparados na saída. (A lógica, vinda da época vitoriana, era de que um convidado só teria se divertido se ganhasse pelo menos 1kg.)

Knight ficou horrorizado ao saber que Diana era submetida a tal tradição quando sua bulimia era conhecida (mas nunca discutida) dentro das paredes do palácio. “Imagine Diana em sua circunstância – e o fato de que tudo durante aquele fim de semana era baseado em comida, no que você vestia e sua aparência. É tudo sobre o que está no espelho, não o que existe de verdade.”

As visitas reais de Diana em Sandringham eram ainda mais carregadas emocionalmente considerando que sua família morava na mesma propriedade, de aluguel em Park House, quando ela nasceu. No entanto, quando Diana entrou para a família real, Park House estava em ruínas – uma relíquia fechada com tábuas de seu passado ainda de pé nos terrenos reais. Em Spencer, Diana estava dividida entra e a família real e suas mentes manipuladoras, que querem que ela se subordine e se cale, e o eu autêntico que perdeu tempos atrás, vagando assustadoramente como um fantasma à distância.

“Queria que o filme tivesse um elemento de terror porque os contos de fadas originais são bem assustadores”, diz Knight. “E queria que fosse como se ela se sentisse presa, sentisse que era um brinquedo, que era todas essas coisas.”

Foi um estado emocional assustador para Stewart cair de paraquedas. Mas a atriz se sentiu segura e com liberdade parar fazer isso ao lado de Larraín.

“Sempre senti como se pudesse me debater e me jogar nele e dizer: “Você precisa lidar com todas as minhas perguntas e emoções e sei que pode’”, diz Stewart, notando que é raro sentir-se livre assim em um set. “Geralmente, nos meus relacionamentos com os diretores, eu os protejo das minhas emoções. Nesse caso, sinto que estávamos protegendo e apoiando um ao outro, mas também me senti muito livre para comunicar ideias novas e impulsivas… O único jeito de fazer algo que parece rebelde e vivo e meio que seu próprio animal é ter a confiança, conforto e caos para fazer isso… Nunca senti que precisasse abalar sua psique oferecendo outra ideia.”

Juntando-se ao Zoom de seu escritório, Larraín concorda que sua relação de trabalho com Stewart foi especial.

“Tornou-se uma união muito singular. É muito bonito, não acontece com frequência”, diz o cineasta, que filmou pessoalmente algumas das cenas mais emocionais de Spencer. “Quando você assiste ao filme, você percebe que foi uma colaboração íntima.”

Stewart, que está se organizando para estrear como diretora em uma adaptação do livro The Chronology of Water de Lidia Yuknavitch, fica maravilhada com o fato de que ela e Larraín estavam em frequências tão similares que, para muitas cenas, ele não precisou dar direções verbais para ela – apenas uma expressão facial que ela conseguia interpretar.

“Pablo poderia ter interpretado esse papel, e interpretou, comigo todos os dias”, aponta Stewart. “Nunca houve um momento em que olhei por cima dos ombros e esse homem não estava compartilhando cada emoção… As melhores direções que Pablo me deu foram expressões faciais que eram como leituras completas. Eu pensava: “Entendi, vamos lá.” Nós dois a interpretamos. Parece bobo – primeiramente, é engraçado imaginá-lo com a peruca e o vestido, mas não consigo parar – mas realmente compartilhamos um coração nesse filme.”

Em uma cena de Spencer, a Princesa Diana se reúne com a família real para um jantar formal de véspera de Natal – um caso de alto risco que desperta as emoções da personagem. Stewart estava tão investida em cada detalhe que ficou devastada que não poderia usar o vestido rosa que queria por questões de direitos.

“Eu fiquei muito triste por causa do vestido rosa”, diz Stewart. “O filme inteiro é muito vermelho. A cor favorita dela era rosa. Eu queria sentir essa delicadeza – ela tinha essa coisa corpulenta que todos estavam ignorando.”

No final, a figurinista vencedora do Oscar, Jacqueline Durran, criou um vestido verde claro de seda que combinava com a cor da sopa que estava sendo servida.

“E com o papel de parede”, aponta Larraín.

Depois de assistir o filme, Stewart concorda totalmente que o verde era o certo: “Foda-se o rosa.”

É claro o quanto Stewart confiou em Larraín. O público vê novos níveis de vulnerabilidade quando sua personagem interage com o Príncipe William e Príncipe Harry crianças, dança pelos corredores de Sandringham e tem um colapso emocional em uma cena longa que captura a natureza claustrofóbica do fim de semana. Larraín filmou pessoalmente a cena complicada, ficando centímetros de distância da atriz. “Não houve planejamento”, diz Stewart. “É a minha favorita. Quero essa cena e vou deixá-la no meu computador com os 11 minutos de duração.”

Foi crucial ter Larraín ao lado de Stewart quando sua personagem estava em seus momentos mais solitários e vulneráveis – um sistema de apoio consistente que Diana nunca teve em Sandringham.

“Se eu pudesse voltar no tempo e tê-la de volta por um momento, nunca perguntaria nada”, diz Stewart. “Apenas diria: “Cara, posso ficar com você? Quer ficar comigo por um momento?” Ela precisava muito daquilo.”

Em setembro, depois de passar muito tempo com Diana em um filme que foi emocionalmente brutal, mas um sonho de colaboração, a atriz se sentou para assistir Spencer no Festival de Veneza. Ela pensou que conhecia o filme por ter o feito, mas Stewart viveu Spencer novamente naquela noite – se perdendo em suas cenas e sendo atingida por uma onda de emoção inesperada.

“É muito raro se emocionar com seu próprio filme, mas eu estava destruída no final”, diz Stewart.

Não é que ela estivesse emocionada com sua própria performance, Stewart é autocrítica demais para isso. Menos de duas semana atrás, ela contou ao The Sunday Times que “provavelmente só fiz cinco filmes realmente bons de 45 ou 50. Aqueles que penso: “Uau, essa pessoa realmente fez uma obra prima do começo ao fim!’”

“É vergonhoso chorar em seus próprios filmes”, Stewart me conta. “Se eu estivesse naquele cinema, estaria me julgando… mas não me emocionei com minha performance.” Ela diz que foi o filme como um todo.

Mas quando as luzes se acenderam, a bolha íntima de Spencer se rompeu. Eles estavam de volta no mundo real – onde Stewart é uma estrela do cinema sempre cercada.

“Havia muitas pessoas lá. Não podíamos falar”, explica Stewart.

“Não”, concorda Larraín.

“Eu pensei: “Merda, cara. Não podemos falar sobre isso agora, mas estamos em Veneza assistindo ao filme e estou chorando’,” lembra Stewart. Após uns minutos, ela adiciona: “Nunca tive essa experiência. Nunca.”


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