Kristen Stewart fala sobre Spencer com o Refinery29

By Kah Barros - 15:55

 

Daddy. Estou cara a cara com Kristen Stewart em um quarto de hotel em Londres, falando sobre Spencer, o drama sublime dirigido por Pablo Larraín em que ela interpreta a Princesa Diana, quando no momento mais inconveniente possível, me dá branco. Exceto por uma palavra: Daddy. Estou amaldiçoando o auge desses pensamentos intrusivos quando de repente me ocorre. Está bordado em letra cursiva rosa bebê em seu boné, tão pequeno que é quase imperceptível. Uma piscadela rápida, um lampejo de travessura indumentária para tirar qualquer um de sua linha de pensamento, mesmo que por um milésimo de segundo.

A atriz de Los Angeles construiu a carreira tirando as pessoas de suas linhas de pensamento. Seus papéis são tão variados quanto imprevisíveis, indo da interpretação que impulsionou sua fama como uma adolescente taciturna apaixonada por um vampiro em Crepúsculo para uma personal shopper angustiada com o luto, uma agente no reboot de grande orçamento de As Panteras e uma estudante planejando pedir sua namorada em casamento na comédia romântica queer de Natal, Happiest Season. Cada personagem vibra em sua própria frequência, mas sempre retém algo dos maneirismos cautelosos e indiferença estranha da atriz de 31 anos – uma fisicalidade levada a um grau fantástico em Spencer, com a charmosa inclinação de cabeça e sotaque britânico infalível em boa medida para imitar o de Lady Diana.

“Acho que está em The Crown e é muito bom.” Ela pausa, rindo, enquanto recalibro. “Ela meio que cai ao lado de Charles e diz: “Querido, acho que vou desaparecer. Sinto que vou desaparecer.” Spencer imagina um fim de semana de Natal particularmente horrível em 1991 na casa de Sandringham da Rainha, quando o relacionamento de Diana com o Príncipe Charles partiu e ela estava cercada por jornalistas em cada esquina. O intertítulo nos diz que o que estamos prestes a ver é “uma fábula sobre uma tragédia real”, uma mistura de surrealismo e melodrama ponderada por elementos da verdade. Em uma cena, vemos a verdade luta de Diana com bulimia enquanto ela se curva sob um vaso sanitário; na próxima, ela fantasia sobre comer o colar de pérolas que foi presente de Charles na mesa de jantar.

“O relacionamento que ela tinha com a comida, a compulsão e a purgação, era para se autodiminuir, a meu ver”, Stewart continua. “Ela só quer ir embora e ser invisível, mas curiosamente, de uma forma que vai completamente ao contrário disso, ela só quer estar perto de outras pessoas. Ela tinha um talento inato de se conectar com outros e fazer com que cuidassem e percebessem que precisamos uns dos outros. Que está tudo bem ser vulnerável.”

Essa não é a primeira vez que o diretor chileno Pablo Larraín ganhou elogios pelo retrato de uma figura pública feminina fortemente criticada. Seu filme de 2016, Jackie, rendeu para Natalie Portman uma indicação ao Oscar por seu papel como Jackie Kennedy em luto após o assassinato do presidente John F. Kennedy. Parecido Jackie, Spencer faz mais barulho em pontos onde nada é dito, mas muito é transmitido por olhares arregalados ou o enrijecimento de uma mandíbula. O filme parece a personificação de um grito abafado por um travesseiro de seda.

“Algumas vezes, parecia que ela era alguém que se odiava – e eu a amo tanto”, diz Stewart. “Nesses momentos em que ela se sente completamente sem valor. Não estou querendo ser hiperbólica, é verdade. A ideia dela correndo para o quarto de seu filho e se trancando no banheiro, e que a única pessoa que ela podia confiar era uma criança de 11 anos, é de partir o coração. Algumas vezes eu pensava: “Não acredito nisso!” Eu fico com tanta raiva por ela. Literalmente quero voltar no tempo e dizer: “Cara, você precisa de um melhor amigo.”

Apesar de ter apenas 7 anos quando Diana faleceu – Stewart me conta que lembra “de todas as flores na frente do Buckingham Palace” – e seu crescimento em LA significar que ela não “tinha um relacionamento mais envolvido com toda essa saga”, é óbvio o porquê de a atriz sentir uma afinidade sobrenatural com a princesa. Catapultada para o estrelado global quando adolescente e crescendo nos olhos do público, ela tem um entendimento pessoal sobre a pressão esmagadura que a fama pode apresentar. Há uma cena no filme em que Charles diz para Diana: “Precisa haver duas de você: a verdadeira e a que eles tiram fotos.” Sem dúvidas, essa declaração teria carregado uma pertinência dolorosa para Stewart, que precisou afastar as atenções de uma fã base particularmente raivosa de jovens com Crepúsculo.

“As pessoas disseram tanto isso para mim”, ela concorda. “Quando eu era mais nova, era mais difícil para mim ter essas conversas. Um conselho que eu recebia o tempo todo era: “Vá até lá e interprete um personagem, não se deixe afetar, seja outra pessoa.” Como você faz isso? Eu não acho possível. E foi exatamente como ela se sentiu. Nunca ia funcionar para ela, era algo que ela não conseguia engolir. Acho que pessoas que gostam de pensar que estão interpretando papeis e se sentem no controle, também se sentem desconectadas e é tão óbvio. Não é você. Você não é real.”

Ao longo do filme, você realmente tem uma noção do estado mental fragilizado de Diana naquele momento de sua vida. Ela vagueia pela vasta extensão de Sandringham, sufocada, mas desejando conexão. Sua paranoia sobre quem confiar em seu pequeno círculo chega ao ápice quando ela escuta um rumor de que Maggie (Sally Hawkins), sua camareira e única confidente verdadeira, acredita que ela está “ficando louca”. Sem surpresas, Stewart compartilha dessa desconfiança. Passe tempo o bastante na indústria do cinema e você pode se queimar em um momento ou outro.

“Eu amo ter conversas pessoais com jornalistas sobre as coisas em que trabalho e minha própria vida, mas ao mesmo tempo, preciso reconhecer que você vai escrever um artigo sobre isso”, ela encolhe os ombros e abaixa o olhar. “Estou falando com o mundo todo agora. Vamos ser verdadeiras sobre isso! E é tão louco julgar alguém como ela por tentar quebrar essas passagens complexas de comunicação. Todos os jeitos em que ela tentou ultrapassar e ser uma pessoa real parecem claros para mim. Você coloca uma pessoa em uma posição onde ela não pode ser honesta, então você a julga por ser manipuladora ou por tentar mostrar quem é, faz sentido total.”

Em momentos da nossa conversa, não é claro se Stewart está se referindo a si mesma ou Diana, falando com frequência sobre a segunda no presente e então se corrigindo. Parece que para Stewart, Diana é uma figura que está bem viva. E de certa forma, Spencer é uma história de fantasma: um estudo da luz se apagando devagar dentro de uma pessoa vivaz. Também é a história de mulheres poderosas destruídas pelas estruturas que as cercam. O espectro assombrado de Anne Boleyn faz uma aparição ao longo do filme. “Algumas pessoas são muito espirituais e acreditam em energia e energia persistente, eu caio do lado do “não tenho ideia alguma’”, Stewart oferece quando pergunto se ela sentiu alguma coisa enquanto filmava na vasta casa. “Eu não quero dizer que o fantasma dela me ajudou, mas ela definitivamente perdura. Eu não consigo acreditar que ela morreu em um acidente de carro. Como essa história terminou me atinge uma vez ou outra e me destrói. Ela levou a vida com amor e uma confiança casual desarmante que fazia todos se sentirem tão bem. Eu me senti bem. Ela era alta e me senti alta. Isso para mim parece espiritual. Senti quando cheguei no set, conseguia fazer todos se sentirem imediatamente confortáveis e felizes. E estávamos fazendo a coisa certa, precisávamos uns dos outros. O sistema de apoio foi tão bonito. Foi um sentimento muito legal.”

O filme não mede suas licenças poéticas, especialmente quando se trata de celebrar os pequenos atos de rebelião de Diana. Uma triunfante sequência de dança no final do filme é uma homenagem aos pequenos pedaços de conhecimento público que ficaram fora dos livros de história, como fato de que Freddie Mercury uma vez levou Diana para uma boate gay. Para alguém que admitiu que odeia dançar, Stewart estava nervosa sobre filmar a sequência.

“É, para ser honesta, foi de dar nos nervos”, ela admite. “Não é como se tivéssemos ensaiado, também. [Larraín] não me contava como íamos filmar tudo. Eu perguntava: “Devo trabalhar com alguém?” Ela tem fisicalidade, flutuabilidade e elegância bem particulares. Ela realmente cresceu amando dançar, amando o ballet. Mas para ser honesta, acho que uma das escolhas mais confiantes e inspiradoras que Pablo fez foi não me permitir me preparar, porque assim que começamos, tudo o que sabia sobre ela e o que eu sentia sobre essa história se encontrou nesse momento de um jeito inarticulado, mas efêmero. Nós filmamos a cada dia também, então alguns dias eram exuberantes, felizes e divertidos e outros eram muito pesados.”

Essas liberdades com a licença poética se estendem a muito momentos satisfatórios no roteiro, desde a inclusão de uma confissão de um amor queer de um dos empregados para imaginações das coisas malcriadas que Diana pode ter feito ou dito, como fechar a porta na cara de uma empregada e dizer para ela: “Vou me masturbar agora.” Até mesmo escolher uma atriz queer para interpretar Diana parece um dedo do meio para as expectativas e tradições antiquadas da monarquia. (Coincidentemente, Emma Corrin, que interpreta Diana em The Crown, é outra atriz queer assumida. Stewart admite que é “uma coincidência estranha, interessante e legal – tipo, olha como o mundo mudou tão rapidamente.”)

Já se passaram 24 anos desde a morte de Diana e, sem dúvidas, estamos em um ponto onde a tocha de manter seu legado vivo será em breve passado para a próxima geração. Com Spencer, Stewart pode ficar tranquila, que se sua interpretação interfere na maneira em que a Princesa do Povo vive, é em uma explosão desafiadora de glória.

“Tantas histórias a criticam por ser manipuladora, petulante e alguém que se revoltou apenas para ser rebelde ou para chamar atenção”, diz Stewart. “Ela é pintada desse jeito com frequência. E eu acho isso tão violento. Foi gratificante interpretá-la dessa forma. Ela fez muito sentido para mim.”

 

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